Quem sofre uma perda recente fica com um certo olhar que talvez seja somente reconhecível pelos que já viram aquele mesmo olhar no próprio rosto. Notei isso no meu rosto e agora percebo isso nos outros. Esse olhar reflete uma enorme vulnerabilidade, é como estar nu e desarmado. É o olhar de quem sai do consultório do oftalmologista com as pupilas dilatadas e encara a luz do dia, ou o olhar de quem usa óculos e tem subitamente de tirá-los. As pessoas que perderam alguém parecem nuas porque se acreditam invisíveis. Eu mesma me senti invisível durante um tempo, como se não tivesse um corpo. Parecia que eu tinha atravessado um daqueles rios mitológicos que separam o mundo dos vivos do mundo dos mortos, como se eu tivesse entrado num local onde pudesse ser vista por aqueles que estão passando por um luto recente.
Não vou precisar comprar o original. A editora Nova Fronteira traduziu o então “O Ano do Pensamento Mágico” da Joan Didion.
Citei esse livro 1, 2, 3, 4 vezes aqui no blog. Valeu, Kim.