Samjaquimsatva






The PCC took my babe away

Ontem eu estava nadando na PUC quando o Alexandre, que toma conta da piscina, me interrompeu e avisou “To fechando a piscina”. Era cinco da tarde, a piscina sempre fecha às onze da noite. “É que hoje não vai ter ônibus hoje depois das seis por causa dos atentados”. A palavra atentados sobressaiu na frase. Ele pegou um galão de cloro, deixou despejando dentro da piscina e foi fechando tudo meio que correndo feliz por ir embora mais cedo. Calcei o chinelo e fui meio destrupiado em direção ao carro. Mais a frente, um segurança me avisou que a faculdade decidiu fechar as portas. Liguei o carro e coloquei um tranqüilo James orr Complex pra ouvir, numa tentativa de abstrair a sensação estranha.

Quando fui atravessar a Unicamp, logo na entrada da área médica, vi uma fila de carro que nunca tinha visto nos quatro anos que fiz o caminho quase diariamente. Minha pista estava vazia, mas a outra estava completamente entupida, do início ao fim, em toda sua extensão. Desliguei a música e coloquei na CBN. Só podia ter um toque de recolher oficial da polícia, pensei. Não era oficial, mas era um toque de recolher. Chegando em casa, fomos ao Pão de Açúcar. Lotado. Parecia que um furação estava prestes a chegar e as pessoas compravam mantimentos. Salsicha e cerveja, porém. Jantei yakisoba. Estava com fome e estava bom.

Pois ontem foi a primeira vez na minha breve vida que me senti morando em uma situação de guerra ou de desastre natural. Meus pais contam do medo da época da ditadura e a gente não tem muita noção. Agora dá pra imaginar melhor. Sensação de guerra ou desastre natural: duas coisas que o povo brasileiro se considera abençoado por não viver. E foi guerra. “Estamos em guerra”, o comandante da PM bradou na coletiva. Passou. Hoje restou apenas uma leve sensação de insegurança. Apesar de que em nenhum momento o alvo dos atentados fossem civis, o medo que fica é da insegurança, de estar desprotegido. Imaginei como vou me sentir na próxima vez que for atravessar Campinas voltando de madrugada da casa da Carol.

Dessa vez nem governador, nem qualquer autoridade terá a moral pra dizer que o crime organizado foi acuado e contido pela polícia. Lemo-Lemo negou que os atentados cessaram porque houve negociação com Marcola, mas a imprensa a população não foram bobas de acreditar nisso. Ficou claro, tudo parou por um único motivo: Marcola mandou parar. Depois dos ataques, o PCC irá submergir. Mas agora sabemos seu poder. Que é mais forte e organizado que a polícia. O PCC ganhou a guerra, a polícia e a sociedade perderam. Tudo já voltou ao normal. Mas nossa idéia do submundo não será a mesma.