Samjaquimsatva






Vampirismo midiático

O funcionamento predominante da televisão é através da ironia e descontinuidade. Isso ajuda a explicar porque a primeira geração que ficou viciada em televisão provou ser, em geral, menos focada, menos intensa, menos alerta e com menos seriedade que seus antecessores.

Philip Marchand comenta porque a geração dos anos 30, época de Updike, Roth, DeLillo, foram capazes de sacudir tanto o mundo; ao contrário da geração dos baby boomers que já nasceram tendo a televisão como parte de suas vidas. David Foster Wallace comentou sobre esse processo com mais detalhes na famosa entrevista do Center of Book Culture em 1993:

Sendo o sofrimento uma parte inevitável do ser humano, uma parte que faz nós humanos irmos a direção à arte é a experiência de sofrimento, necessariamente uma experiência vicária, mais como um tipo de “generalização” do sofrimento. Faz sentido isso? Nós todos sofremos sozinhos no mundo real; empatia verdadeira é impossível. Mas se uma peça de ficção pode nos permitir através da imaginação a identificar com a dor de um personagem, nós então provavelmente entenderemos com mais facilidade como os outros se identificam com as nossas. Isso é substancial, redentor; nos tornamos menos solitários por dentro. Pode ser simples assim. Mas agora perceba que a TV e filmes populares e a maior parte de arte “baixa” – que significa a arte cujo principal objetivo é fazer dinheiro – é lucrativa precisamente porque reconhece que a audiência prefere 100 por cento de prazer em uma realidade que tende a ser 49 por cento de prazer e 51 por cento de dor. Ao ponto que a arte “séria”, que não pensa em como tirar dinheiro de você antes de tudo, tende a deixar você desconfortável, ou a forçar você a trabalhar pesado para acessar seus prazeres, do mesmo modo que na vida real o prazer verdadeiro é normalmente um subproduto de um trabalho pesado e desconfortável. Então é difícil para um público de arte, especialmente de jovens que cresceram supondo que arte é para ser 100 por cento prazeirosa e deve produzir esse prazer sem esforço, ler e apreciar a ficção séria. Isso não é bom. O problema não é que os leitores de hoje sejam “burros”, eu não acho isso. É só a TV e a cultura da arte-comercial que os treinaram a serem preguiçosos e infantis em suas expectativas. Isso faz com que o tentar engajar os leitores de hoje tanto na imaginação quanto intelectualmente uma tarefa de dificuldades sem precedentes.