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Contra o Brasil

É engraçado mesmo o romance “Contra o Brasil” do Diogo Mainardi, de 1998. Só que é de um engraçadismo altamente perturbador. É engraçado o atear fogo nos mentigos e sem-teto que se amontoavam dentro do Cinema Bandeirantes. É engraçado o mancar devido uma ferida que apodrece em um pé. O abuso sexual de uma índia, de uma filha e da mulher de um amigo é engraçado. A humilhação constante, o matar, roubar, trapacear, tudo de ruim que pode se concentrar em um ser humano se torna engraçado. Assim como em em “Malthus”, de 1989, há em cada linha de “Contra o Brasil” algo extremamente perturbador no formato de pesadelo. Um pesadelo completo de Brasil.

O ultra-antibrasileiro anti-herói do livro atende por Pimenta Buendia. Sua saga tem início após ele incendiar uma propriedade de sua família invadida por toda espécie de gente miserável. Matam-se vários, fere-se outros, e Pimenta Buendia precisa de fugir. Fugir para o interior do Brasil, fazendo a mesma rota que Claude Lévi-Strauss, o antropólogo francês, realizou décadas atrás quando descobriu os nambiquaras, índios que considerava o estado mais primitivo que o ser humano podia chegar. Pimenta Buendia durante todo livro é uma máquina de citar impropérios de grandes intelectuais do mundo todo contra o Brasil. Esse, um dos aspectos mais divertidos do livro, foi fruto de uma pesquisa que Mainardi realizou durante dois anos, colecionando todo tipo de frases muito violentas e humilhantes que escritores, filósofos, antropólogos, sociólogos, biólogos, e todo tipo de personalidade intelectual disseram quando passaram pela experiência de colocar os pés em nosso país.

Pode-se não gostar da estética ou não reconhecer o fino humor que alguns de nossos intelectuais cultivam contra o país; mas fica difícil discordar que o Mainardi, inteligente que só, escreveu um romance que infelizmente parece ser o retrato definitivo do Brasil. É inevitável, também, comparar a lambança que o PT realizou no poder com a ideologia de Pimenta Buendia. É natural imaginar Lula, sozinho, pensando como Buendia quando questiona “Significa então que assassinei barbaramente um bando de miseráveis e ainda saí lucrando?”, para depois comemorar, com uma felicidade incontrolável “O Brasil é o país da impunidade!” Em “Malthus”, Loyola-y-Loyola multiplica-se como no milagre da multiplicação dos pães, só que o resultado é o oposto do milagre de Jesus. Ao ler “Contra o Brasil”, percebe-se que o mesmo processo acontece com Pimenta Buendia, só que numa escala um pouco maior, mais ou menos nuns 180 milhões de pessoas.