Depois que li Trainspotting e quase faleci lendo Pornô, quis mais Irvine Welsh. Em uma pesquisa rápida feita entre os amigos a indicação foi unânime: FILTH. Imundo, sujo, porco, obsceno, vulgar, podre, corrupto. Sendo Irvine Welsh, não foi novidade encontrar um livro repugnante e engraçado. A diferença é que em Filth o grotesco e o engraçado são levados ao extremo. É impressionante tanta barbaridade reunida em um único livro, em um único personagem, no caso o detetive Sargento Bruce Robertson.
Racista, misógino, homofóbico, psicótico e sociopata, o detetive Robertson tem o trabalho de investigar um assassinato. Várias vezes ele chega perto de descobrir o assassino, mas simplesmente não se esforça nem se interessa em ter o caso como resolvido. No meio do caminho fica muito ocupado em encher a cara, consumir drogas, forçar felação com meninas novas, abusar de prostitutas, dos amigos, das mulheres dos amigos, de absolutamente tudo e todos que se encontram ao seu redor.
É uma novela policial totalmente fora dos padrões. A trama não envolve o leitor para que ele tente decifrar como será o final, nem há respostas sobre o crime investigado. São 400 páginas de violência, sexo, abuso, ódio e deformação completa de todos os valores e sentidos humanos. Aparentemente é só isso. Mas só Irvine Welsh consegue dar legitimidade e dimensão humana ao pensamento de personagens tão grotescos e repugnantes como Bruce Robertson. Ele mostra minuciosamente o processo de crescente perturbação, sofrimento e inferno que a vida do detetive se transforma. E ele não pára nunca, faz isso com maestria até o final do livro, levando o policial a mais profunda demência e sofrimento mental possível. Aye. Deu pra ficar um bocado satisfeito de Irvine Welsh.