A fim de me manter à tona, a cidade de Pedranópolis inteiramente submersa, a torrente salpicada de redemoinhos, aferrei-me a um tronco de carnaúba que flutuava a meu lado. Quatro desabrigados aferraram-se ao mesmo tronco de carnaúba. Apresentamo-nos. O primeiro desabrigado estava com o braço esquerdo fraturado. O segundo desabrigado, num gesto de solidariedade, tentou fraturar o braço esquerdo dos outros dois desabrigados. Foi contido. Abraçamo-nos.
Em Arquipélagos, romance de Diogo Mainardi de 1992, a barragem da represa de Ilha Solteira desmorona e submerge o Noroeste do Estado de São Paulo. Algumas das cidades atingidas são: Susanópolis, Mesópolis, Pedranópolis, Fernandópolis, Dolcinópolis, Janeópolis, Santa Clara d’Oeste, Santa Rita d’Oeste, Estrela d’Oeste e Palmeira d’Oeste. O que acontecerá nos dias após o dilúvio?
A tentativa de reconstrução de uma sociedade é o que Diogo Mainardi narra com seu humor bobo e pimpão. Há um líder-narrador mais um grupo de dez desabrigados que vão morrendo e sumindo ao longo da história. Nada dá certo. O líder volta para sua cidade no Rio de Janeiro.
Arquipélagos não deveria ser um livro. Deveria ser um anexo inacabado de Contra o Brasil. Sozinha a história não tem consistência. A linguagem torna-se repetitiva, o grotesco não causa efeito, a ironia perde sua força. Como anexo de Contra o Brasil daria uma atmosfera de obra-prima ao livro. Como outro livro, expõe a limitação do autor em criar uma linguagem diferente para sua narrativa ficcional. O livro porém é leve e legal, dá pra ler no máximo duas sentadas. Não é genial nem leitura obrigatória, mas tem que ter.