Samjaquimsatva | |
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Vou comprar um quadrinho Fritz The Cat, America, Blues, Mr. Natural, Minha Vida, Bob & Harv, recebi com muita empolgação todos os livros do Robert Crumb que a Conrad publicou no Brasil. Li todos. Não comprei nenhum. Li em livrarias. Depois ficava com preguiça de comprar, achando que não iria curtir tanto reler e que deveria gastar a grana com ficção. É a principal razão que não compro quadrinhos. Acho que vou ler uma vez e deu. Até mesmo com o Crumb, que nunca canso de ver seus traços e rostos (principalmente dos scketchbooks), eu sinto isso. Mas agora não tem desculpa. Vou comprar um quadrinho pra ter. Ele se chama Kafka de Crumb, uma parceria do Crumb com o escritor David Zane Mairowitz, publicado pela editora Relume Dumará. Segundo o Todoprosa, "é saboroso até para kafkianos cascudos". Não que eu seja. Mas crumbiano cascudo, eu acho que sou. Uma vida de verdade “Este curso todo (...) é cascata uma semana atrás da outra. Um crítico depois do outro lamentando o atual estado da crítica. E ninguém consegue dizer exatamente qual é o problema. Mas todo mundo sabe o que está errado. Todos sabem que ‘empresa’ é um palavrão. E se alguém se diverte ou fica rico – que horror! É o mal! E é sempre a morte disso ou a morte daquilo. E as pessoas que acham que são livres não são livres ‘de verdade’. E as pessoas que acham que são felizes não são felizes ‘de verdade’. E ficou impossível criticar radicalmente a sociedade, mas ninguém consegue dizer exatamente qual é o defeito tão radical da sociedade para precisarmos de uma crítica tão radical. (...) As coisas estão ficando cada vez melhores para as mulheres e as pessoas de cor; e os gays e as lésbicas, cada vez mais integrados e abertos, e você só consegue pensar num problema imbecil e mal explicado entre significados e significantes. A única maneira de transformar esse anúncio, que é bom para as mulheres, numa coisa ruim – e você precisa transformar, porque tudo precisa ter um lado ruim – é dizer que é errado ser rico e trabalhar para uma grande empresa, e está bem, eu sei que o sinal tocou.” Desabafo de uma aluna a um professor universitário nas páginas iniciais do As Correções do Jonathan Franzen. Estou na página 300, ainda na metade, mas o trecho acima me voltou à mente e tive que folhear o livro até encontrar. Achei um ótimo comentário sobre a crítica em geral e sobre emitir opiniões, algo que geralmente se resume em tentar fazer os outros odiarem aquilo que a gente odeia. Um mecanismo que molda uma identidade, junta grupos de amigos que juntos emitem opiniões e criticam coisas e pessoas em nome de uma experiência de algo sincero e verdadeiro. Se bem que não consegui digerir direito o que o trecho causou em mim, mas parece que, na era do cinismo, até a busca daquilo que vai além dele pode se tornar apenas mais uma forma de sua expressão. Getty Photographers 2007 Getty Images New Photographer 2007. Os 35 novos nomes da fotografia segundo a maior agência de imagens do mundo. You are so EMO O mestre dos quadrinhos Chris Ware fez quatro capas diferentes para a New Yorker do Dia de Ação de Graças. Não sou muito chegado em quadrinhos, mas esse cara é uma coisa do gênero que me dá uma baita vontade de ler. O poder dos livros The Power of Books é um trabalho artístico realizado na Universidade de Artes de Viena que ilustra o que acontece dentro da cabeça de quem lê um livro. Fiquei imaginando que autor combinaria com cada foto. Polícia vs. Bombeiros Totalmente surreal a galeria de fotos do confronto entre policiais e bombeiros em Paris. Só podia ser na França. Dica do Walter. Pensando em tipos Não é à toa que a Cosac Naify sempre leva o prêmio Jabuti de melhor capa. Estão sempre inovando. Para o livro sobre tipologia Pensar com tipos de Ellen Lupton, fizerem quatro versões de capas em um ateliê artesanal de lambe-lambe, usados geralmente para imprimir aqueles cartazes de shows que são colados indevidamente por toda a cidade. Da simplicidade fizeram algo fino. Quem é chique sabe ser chique de qualquer maneira. Jest Fest O LA Weekly publicou o prefácio do Dave Eggers para edição comemorativa do 10º aniversário do Infinite Jest. Achei chatinho. Poderiam ter chamado alguém mais legal. Calendário Pirelli 2007 Saiu o Calendário Pirelli 2007. Como sempre, todo mundo rasgando elogios às fotos. A Sophia Loren realmente está linda e a proposta de colocar uma mulher de 72 anos junto às jovens beldades foi ótima. Mas, convenhamos, ficou infinitamente inferior ao de 2006, talvez o melhor que a dupla de fotógrafos Inez Van Lamsweerde e Vinoodh Matadin produziram desde a década de 90, quando começaram a trabalhar juntos para o projeto. College Photographer 2006 Matt Eich é o vencedor desse ano do grande prêmio de fotografia College Photographer of the Year. Eu fiquei com a menção honrosa no Expocom 2006. Leitor como músico amador Smith: Eu penso na leitura como uma habilidade e uma arte. E se você lê mal – Eu sempre penso num bom exemplo – Tenho tentado escrever um artigo sobre [David] Foster Wallace e quando você lê Foster Wallace pela primeira vez, ou quando os críticos o lêem, eles o devolvem com aquilo que eles acreditam que viram, que é algum espertinho muito sabido com uma linguagem inteligente, mas eles não tem idéia de que isso –- Trecho que resolvi traduzir da entrevista da Zadie Smith ao programa de rádio Bookworm. Ele em inglês aqui. Aliás, o texto no site do programa me deixou interessado em seu novo livro, On Beauty, onde ela mostra como a nossa cultura cria uma ilusão sobre a identidade, e como a busca pelo belo e verdadeiro depende da destruição da mentira que é a identidade. Nada é mais importante que essa noção. Potty Pesquisando editoras no trabalho encontrei dois livros infantis engraçados: Everyone Poops e The Gas We Pass. Grande literatura infantil japonesa. As Intermitências da Morte É uma grande sacanagem filosófica a idéia principal do livro As Intermitências da Morte de José Saramago. A morte, cansada de ser odiada por todos, decide parar de matar. Ninguém mais vai morrer. Todos terão a tão sonhada eternidade absoluta. No primeiro momento, o que é visto como uma maravilhosa notícia, torna-se um pesadelo para todos. A igreja se desespera por perder o sentido de existir, o governo não dá conta dos gastos com a previdência, os hospitais ficam cada vez mais lotados e os pacientes moribundos impossibilitados de morrer. No país onde ninguém morre ninguém consegue viver. Na dicotomia apresentada por Saramago fica impossível escolher de que lado ficar. Não há nada que aflija e desestruture tanto o ser humano quanto a morte. Nada angustia mais que o pensamento da perda daquelas pessoas que têm um espaço único em nossas vidas. Um espaço que ninguém mais poderá ocupar. Por isso é uma sacanagem mostrar que tudo seria bem pior caso a morte não existisse. Sem ela o mundo não funcionaria. As qualidades positivas que o ser humano foi capaz de cultivar perderiam o sentido. Chega a ser absurdo e doloroso escrever que é de extrema importância a morte existir. E dá medo. É como se estivesse desafiando a morte com a racionalidade, esta frágil que só. Todos sentem a falta da morte no país onde ninguém morre. Pois então ela decide voltar. Agora com um serviço de correspondência que avisa com oito dias de antecedência quando irá chegar ao vivente. O desespero do fim da morte transforma-se no desespero por sua volta. A situação humana se mostra ironicamente trágica. Longe de ser tão engenhosa quanto o começo do livro, é nessa segunda parte do romance que consolida a noção de como Saramago escreve absurdamente bem. Não usa ponto final, abusa das vírgulas, escreve parágrafos enormes, alterna vozes apenas usando letra maiúscula, enfim, constrói grandes blocos de textos irregularmente perfeitos. Como escreve bem. Nem parece a figura carrancuda cujos comentários políticos são tão ultrapassados. Pois a morte estranha quando uma de suas correspondências retorna. Alguém deixou de morrer. Alguém que deveria estar morto continua vivendo. A morte fica curiosa e decide investigar quem é essa pessoa. O que ela faz? Como ela vive? Para isso, a morte encarna na aparência humana de uma mulher e acaba por humaniza-se. Passa a sentir amor, compaixão, empatia. Tudo para que o mais previsível dos finais românticos aconteça: a redenção da morte através do amor. O que teve o início de uma forma genial infelizmente cai na vala do mais previsível clichê romântico. Mas Saramago não para sequer uma linha de escrever absurdamente bem. E mesmo no clichê faz com que vários sentimentos diferentes passe um frio em nossa espinha. Comemorando Rosa A capa rústica da edição comemorativa do Sagarana ficou linda, já a do Grande Sertão: Veredas ficou parecendo a capa de um disco de death metal. Sem fiapos Mas é bom demais uma saladinha junto com umas fatias de manga, heim. Si Bemol maior Assisti a apresentação da Orquestra Sinfônica de Campinas essa noite no Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes. Sinto falta do volume nessas apresentações de orquestras pequenas. Sem um bom volume acho difícil ficar tomado pelas peças. Dá vontade de ouvir a percussão fazendo o teatro tremer e os metais, baixos e violinos intimidando pela grandiosidade. Creio que só uma orquestra grande em teatro pequeno seja capaz de proporcionar isso; ou uma microfonada, que nunca vi em lugar fechado. A melhor parte da apresentação de hoje foi o concerto de Richard Strauss com o solista de trompa Alex Ado Soares, cuja fisionomina é de um caminhoneiro. Legal sua figura tocando o instrumento. A segunda parte foi uma sinfonia obscura de Beethoven que não consegui fruir direito, deu sono e desinteresse. A terceira parte foi meia Corn & Bacon e meia Brasileira no Pizza Hut. Essa sim, impecável. Fuck geek Bill Gates... sexy. Pois é, nerds mandam bem, dizem. Borat Aguardo com ansiedade a chegada do filme Borat!: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan ao Brasil. Criação do comediante inglês Sacha Baron Cohen, Borat é um jornalista do Cazaquistão que vai para os Estados Unidos filmar um documentário sobre a cultura e sociedade do país mais rico do mundo. Ápice do politicamente incorreto, Borat interage com norte americanos comuns que não fazem idéia que estão sendo vítimas de piadas absurdas. Acabam, sem querer, sendo mais surreais que o próprio Borat. O filme, que estreiou nesta sexta-feira nos Estados Unidos, já é a sensação da temporada. A correspondente do Estadão em Washington, Patrícia Campos Melo, assistiu. Parece ser uma das coisas mais engraçadas dos últimos tempos. Vejam o trailer, onde Borat apresenta seu país e despede-se de seu povo. Update: Esse trailer é muito melhor! Capa da Primeira Página Bela idéia e execução primorosa a capa do livro Primeira Página da Folha de S. Paulo. Como não escrever O Theblog Books dá dicas sobre Como não escrever romances: uma guia passo a passo para fracassar. Me fez lembrar da lista Primeiras linhas dos livros que não escreverei da McSweeney's. José Mindlin Dois anos depois, terminei o ginásio sem ter idade para entrar na faculdade de Direito. E disse a meu pai que eu queria trabalhar. Ele disse: "Mas para fazer o quê?". Eu disse: "Qualquer coisa". Meu pai disse: "Tá bom, vou ver o que é que eu consigo para você". Uns dias depois, ele chega em casa e me diz: "Arrumei um emprego". "Não diga?" "É, arrumei. Um amigo, importador de frutas, precisa de alguém para controlar a entrada dos caminhões no Mercado Central." Uma coisa nada sedutora, naturalmente. Mas como eu tinha dito que faria qualquer coisa, eu disse: "Tá bom, vamos em frente". Aí o meu pai disse: "Estou brincando. Você vai entrar na redação do Estado de S. Paulo". Eu tinha 15 anos e pouco. O conjunto dos trechos da palestra que o José Mindlin ofereceu ao projeto Paiol Literário, em Curitiba, promovido pelo jornal de literatura Rascunho, foi uma das melhores coisas que já li sobre o que significa ser um homem das letras. Pedro, o escamoso Nunca descamei tanto em toda minha vida. Tem coisas que a gente nunca aprende, escama. Ontem fui ver pela segunda vez na vida a piscina olímpica de 50m. Não tem volta, ficarei sócio do Bonfim Recreativo e terei uma vida completa. Tá muito difícil e complicado não ser feliz pra caralho. Não posso reclamar, ninguém mandou eu tentar. Bonfim Hoje vi pela primeira vez na vida uma piscina olímpica de 50m. Deu até água na boca. |
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