Dois anos depois, terminei o ginásio sem ter idade para entrar na faculdade de Direito. E disse a meu pai que eu queria trabalhar. Ele disse: "Mas para fazer o quê?". Eu disse: "Qualquer coisa". Meu pai disse: "Tá bom, vou ver o que é que eu consigo para você". Uns dias depois, ele chega em casa e me diz: "Arrumei um emprego". "Não diga?" "É, arrumei. Um amigo, importador de frutas, precisa de alguém para controlar a entrada dos caminhões no Mercado Central." Uma coisa nada sedutora, naturalmente. Mas como eu tinha dito que faria qualquer coisa, eu disse: "Tá bom, vamos em frente". Aí o meu pai disse: "Estou brincando. Você vai entrar na redação do Estado de S. Paulo". Eu tinha 15 anos e pouco.
O conjunto dos trechos da palestra que o José Mindlin ofereceu ao projeto Paiol Literário, em Curitiba, promovido pelo jornal de literatura Rascunho, foi uma das melhores coisas que já li sobre o que significa ser um homem das letras.