Samjaquimsatva






Uma vida de verdade
“Este curso todo (...) é cascata uma semana atrás da outra. Um crítico depois do outro lamentando o atual estado da crítica. E ninguém consegue dizer exatamente qual é o problema. Mas todo mundo sabe o que está errado. Todos sabem que ‘empresa’ é um palavrão. E se alguém se diverte ou fica rico – que horror! É o mal! E é sempre a morte disso ou a morte daquilo. E as pessoas que acham que são livres não são livres ‘de verdade’. E as pessoas que acham que são felizes não são felizes ‘de verdade’. E ficou impossível criticar radicalmente a sociedade, mas ninguém consegue dizer exatamente qual é o defeito tão radical da sociedade para precisarmos de uma crítica tão radical. (...) As coisas estão ficando cada vez melhores para as mulheres e as pessoas de cor; e os gays e as lésbicas, cada vez mais integrados e abertos, e você só consegue pensar num problema imbecil e mal explicado entre significados e significantes. A única maneira de transformar esse anúncio, que é bom para as mulheres, numa coisa ruim – e você precisa transformar, porque tudo precisa ter um lado ruim – é dizer que é errado ser rico e trabalhar para uma grande empresa, e está bem, eu sei que o sinal tocou.”

Desabafo de uma aluna a um professor universitário nas páginas iniciais do As Correções do Jonathan Franzen. Estou na página 300, ainda na metade, mas o trecho acima me voltou à mente e tive que folhear o livro até encontrar. Achei um ótimo comentário sobre a crítica em geral e sobre emitir opiniões, algo que geralmente se resume em tentar fazer os outros odiarem aquilo que a gente odeia. Um mecanismo que molda uma identidade, junta grupos de amigos que juntos emitem opiniões e criticam coisas e pessoas em nome de uma experiência de algo sincero e verdadeiro. Se bem que não consegui digerir direito o que o trecho causou em mim, mas parece que, na era do cinismo, até a busca daquilo que vai além dele pode se tornar apenas mais uma forma de sua expressão.