Nos comentários do post abaixo, o Rafael Lima perguntou se eu não acho que tem pessimismo demais na nova literatura de língua inglesa. Disse que não vale responder que tem pessimismo demais no mundo. Fui responder, ficou grande e resolvi postar.
Acho que seria simplista demais reduzir esses autores e suas obras como pessimistas. Para mim, eles passam longe de serem pessimistas. Vejo em seus livros uma tentativa de mostrar o que significa estar vivo, o que é ser humano nos dias de hoje. É isso que eles exploram. E uma parte inerente do ser humano é o sofrimento. Então eles mostram isso por talvez por muitas coisas importantes em nossas vidas surgirem de nossas experiências ruins. E todo mundo sofre. É complicado lidar com uma vida que parece ser única. É muita coisa envolvida - ainda mais com uma geração que nasceu tendo a televisão e publicidade fazendo parte de sua vida.
Não considero esses autores (acho que falo mais do David Foster Wallace e agora do Jonathan Franzen) pessimistas por eles serem pra mim demasiadamente humanos. Os personagens e situações de seus livros não são sem amor, sem escrúpulos e sentimentos apenas para denunciar o vazio de nossa sociedade, a solidão dos relaciomentos e o materialismo das ideologias. Eles não criam uma história deprimente para denunciar o que é deprimente no mundo. O Infinite Jest é um livro muito triste, assim como o As Correções, mas mostram como as pessoas são capazes de cultivar compaixão, amor e felicidade em um mundo cada vez mais carente disso tudo. Como lidam com isso.
Na paisagem mental dos autores, que de certa forma é impressa em seus livros, pode até haver pessimismo. Mas por nenhum momento eles são niilistas. Não é um pessimismo pessimista, se posso dizer assim. Senão nem chegarariam a escrever um livro. Claro que depois dos grandes autores sempre aparecerem uma gente tentando coaptar seus estilos mas acaba virando apenas algo caótico e sem propósito. Não traz nada de novo, no máximo uma crítica daquilo que estamos cansados de ler e ver em todos os lugares.
Lembrei de uma frase que escrevi sobre o Mãos de Cavalo do Daniel Galera que pode ilustrar bem o que estou tentando dizer: “Apesar do tom pouco otimista, é uma visão de quem olha em direção a uma felicidade bem mais ampla e sólida." É isso que entendo surgir do suposto pessimismo desses autores. Por isso não os considero pessimistas. Pra mim eles são uma injeção de vida. Se acho um livro bastante triste, ao menos ele me toca profundamente com relação ao sofrimento daqueles personagens. Então há uma troca, a empatia com o sofrimento do outro nos faz sentir mais humanos, menos sozinhos.
Mas não é simples comunicar o que um autor quer dizer com seu livro. Às vezes nem eles sabem. Às vezes descobrem no meio do livro. Às vezes depois. É a graça da coisa, essa riqueza de significados. Mas se há algo que caracteriza a boa literatura é estar além de caracterizações. Por isso não é simples de dizer. Os próprios escritores tem que escrever um livro para isso.