Uma entrevista do Jonathan Safran Foer no Charlie Rose está disponível na íntegra no Google Video. Foi gravada em maio de 2002. Safran Foer estava com 25 anos e seu primeiro livro, Everything is illuminated (Tudo se ilumina, Rocco), o havia lançado no time dos novos gênios da língua inglesa. Engraçado essa entrevista ter me aparecer justamente um dia depois que li o artigo Fail better da Zadie Smith. A entrevista ilustra muito bem várias coisas ditas no artigo. E digo mais: o faz melhor. Confesso que fiquei emocionado com as palavras do Safran Foer e pela conexão que acabou surgindo na conversa entre os dois.
Charlie Rose começa perguntando como o livro surgiu. E Safran conta de sua viagem à Ucrânia cujo intuito era descobrir a história de sua família. Nos três dias em que passou na Ucrânia, absolutamente nada aconteceu. Então ele viajou para Praga, onde passou 10 semanas, tempo que levou para fazer a primeira versão do livro. Charlie Rose questiona o que de especial aconteceu em Praga. “Esse é um dos maiores segredos da minha vida", ele responde. E completa: "Só sei que nessas 10 semanas eu fui mais honesto comigo mesmo do que eu jamais tinha sido antes.” E ele não estava pensando em produzir nada. Acabou que escrever era a melhor forma que ele conseguia de permanecer nessa forma de honestidade.
Ele conta de uma pergunta que fizeram pra ele sobre inspiração, o que ele faz quando não está inspirado. Ele respondeu: “Nunca em minha vida eu me senti inspirado.” Para ele, escrever não é questão de inspiração. É um ato comum, de um dia comum, onde ele para, senta e tenta ser honesto e se sentir vulnerável. Algo que passa longe de ser uma revelação gloriosa – é um ato extremamente difícil, frustrante e auto-depreciativo. Mas que ele simplesmente o faz.
O Charlie Rose de novo no toca assunto do que aconteceu em Praga. Ele tenta responder. Aconteceu um tipo de caso amoroso, onde ele se sentiu mais vivo do que nunca tinha se sentido antes. O que passava em sua cabeça eram os pensamentos mais importantes que ele até então já tivera. Tudo parecia significante. Na verdade – para citar o título do livro – nada do que aconteceu era iluminado, exceto a noção de que as pessoas vêem as coisas de maneira diferente. Para ele, o título tinha haver com isso, com o fato de coisas obscuras se tornando claras.
Ao comentar sobre a dedicatória do livro para sua família, fala de novo do aspecto frustrante que é escrever. É um ato que é bonito que acaba se tornando frustrante. Porque ele percebeu que seria através de um livro e de uma história que ele poderia se aproximar o máximo do que ele queria dizer. Ele tentou e se deu bem porque teve a noção de que nunca alcançaria seu objetivo. Mas falhou da melhor maneira possível. Ele queria criar, essencialmente, um simples gesto de uma geração tentando mostrar gratidão por outra geração – algo que seria impossível de acontecer, pois essa geração ou havia sido morta ou já havia falecido de morte natural.
No final ele comenta da via de mão dupla que é a literatura. “A mais profunda das interações humanas é reconhecer alguma coisa de você na outra pessoa.” E conta a história de um rapaz que ligou para um programa de rádio onde ele dava uma entrevista que com uma simples frase de agradecimento o fez reconhecer aquilo que o leitor queria dizer - o que ele quis dizer com o livro. E diz que todo o esforço que teve para escrever o livro teria valido a pena por causa daquele simples gesto daquela única pessoa. E desculpem, estou caindo de sono e tudo que escrevi acima foi só uma tentativa de dizer que essa é uma das melhores entrevistas que já vi sobre literatura.