Samjaquimsatva


 

Só pensa naquilo

Hoje no almoço, vendo takes do Oscar na tv muda do restaurante, o Larry David apareceu sentadinho eu pensei: "Ué, que estranho o Philip Roth no Oscar". Ri quando a ficha caiu.





Terry loves Brazil

O polêmico fotógrafo de moda americano Terry Richardson vai fazer um livro sobre o Brasil. Em abril ele desembarca no país com o roteiro já definido das cidades que irá visitar. O convite foi feito pelo diretor de marketing da Diesel, Marcelo Sebá, que há nove anos trabalha com o fotógrafo. Sebá foi o responsável pelo último trabalho de Richardson no Brasil, que colocou a atriz Luana Carvalho nua ao lado do cineasta genial Vincent Gallo na capa da Vogue RG. Foi ele também quem fez Richardson fotografar a Daniela Cicarelli pra campanha meio infame da Spezzato. A notícia saiu na coluna do Cesar Giobbi no Estadão (para assinantes). Vai ser bem interessante ver o olhar dele sobre o Brasil. O livro tem de tudo pra ser muito bom. É só ele não se limitar a visitar os inferninhos mais badalados do país.





O fazedor de capas

Bom gosto e estilo impecável o portfolio do designer gráfico João Baptista da Costa Aguiar, responsável pela criação dos logotipos da Companhia das Letras e das capas de livros dos autores mais famosos da editora. A editora Senac lançou esse mês um livro sobre ele. Leia mais na matéria do Estado de S. Paulo de hoje.





O Perfume

Não esperava ser tão surpreendido pelo filme O Perfume - A História de um Assassino. Esperava um thriller tradicional, com um mistério envolvendo assassinatos em série e investigação na Europa do século 19. Mas todo esse enredo fica em segundo plano diante as emoções que o filme é capaz de transmitir, deixando o espectador pasmo em um universo de sensações desconhecidas.

Baseado no livro de Patrick Suskind, um bestseller mundial nos anos 80, O Perfume conta a história de Jean Baptiste-Grenouille, um ser humano com uma capacidade olfativa extraordinária, capaz de reconhecer todos os cheiros do mundo. Porém, devido sua infância e juventude escravizada no trabalho em um curtume, é totalmente desprovido de sentimentos. Ele não sente emoções, só cheiros. E através deles que ele se relaciona com o mundo.

Graças ao seu incrível talento, consegue sair do curtume quando o decadente perfumista Giuseppe Baldini o descobre e o compra. Todos os segredos do melhor perfume de seu tempo que Baldini deseja descobrir, seu novo aprendiz produz na hora. É experimentando a infinidade de cheiros da cidade que Jean Baptiste-Grenouille conhece sua obsessão: o cheiro que exala do corpo e cabelo de uma jovem vendedora de pêssegos. Com as técnicas aprendidas na extração do aroma das flores é que ele busca extrair a essência da fragrância de corpos femininos, na tentativa de produzir o melhor dos perfumes.

A beleza e o erotismo são temas presentes em todo filme. O diferente é que eles estão presentes em situações onde supostamente são incapazes de penetrar. Seja em um assassinato, em um corpo morto, ou na própria mente de Jean Baptiste-Grenouille. O exagero do belo quase atrapalha a experiência, mas ainda assim nos perturba por sugerir que os assassinatos fazem parte de uma beleza maior. Incomoda a falta de sentimentos e moral de Grenouille parecer fazer parte da gente.

As reviravoltas que acontecem na história nos últimos 20 minutos do filme apenas elevam esses sentimentos estranhos. O projeto do perfume perfeito é realizado. Só depois de perceber o que uma gota dele é capaz de provocar nas pessoas que Grenouille percebe o seu vazio e incapacidade de compartilhar um sentimentos. E tudo que lhe resta é a busca por sua própria dissolução no local onde nasceu. São elementos de difícil compreensão que fazem o final ser tão bom. E apesar do filme ter claros propósitos comerciais, os motivos que me fizeram gostar dele ficaram longe de ser apenas mérito meu.





Dicas de compras

O site da Livraria Cultura está com layout novo. Ficou bem mais bonito e agradável para navegar. Além de organizarem melhor os títulos por assunto e país, lançaram uma seção não sabia que eles tinham: vídeos e DVDs.

Outro bom lugar pra comprar livros que descobri essa semana é seção descontos especiais temporários no site da Cosac Naify, com promoções que chegam até a 70% mais frete grátis. Para alguns livros caros de arte, moda, fotografia e literatura, compensa muito. Vale dar uma olhada também no Outlet deles, com livros mais baratos por estarem um pouco amassados ou com a sobrecapa rasgada.





O Castelo
– Mas esta história não o aborrece?

– Não – disse K. – Ela me entretém.

Esse pequeno diálogo na página 100 de O Castelo resumiu pra mim muito da experiência que é ler Kafka. Talvez a própria maneira em que Kafka via sua obra, sua experiência como escritor e o reflexo que isso gera em muitos dos seus leitores. Dismistifica também a literatura como algo nobre, superior. Dá a ela um ar de ridículo. Todas as quase 500 páginas de O Castelo não lhe aborreceram? Não chega um ponto que fica chato, enfadonho? O livro pra mim não me foi uma surpresa em si, uma grande descoberta. Talvez porque desde o início, de certa forma, eu já sabia: K. não conseguirá chegar ao castelo. Ficará perdido e destruído no labirinto de complicações que dominarão sua vida. De inédito em Kafka nesse livro posso dizer que conheci bem melhor o seu senso de humor. Quanta finesse, quanta sutileza, quanto cavalherismo; é simplesmente agradabilíssimo. E o que faz parecer que literatura e Kafka sejam quase sinônimos? O que faz ele parecer ser o maior? Há milhares de análises acadêmicas em todos os campos sobre seus livros, mas prefiro ficar com a incapacidade de responder tudo isso: ela já me satisfaz. O final então, acabando do meio de uma frase, sem ponto final, sem saber o que seria a frase, sem desfecho algum, só aumenta ainda o peso da obra. A traição do amigo Max Brod de não jogar todo aquele material inacabado no lixo, que Kafka pedia em seu testamento. São muitas coisas que se fundem e dão a obra de Kafka uma aura tão única em todo o universo da literatura.





Réplica à Torá

A Confederação Israelita do Brasil está levando os escritores Ignácio de Loyola Brandão, Rubem Fonseca, Luis Fernando Veríssimo, André Sant'Anna, Daniel Galera entre outros para participarem da Feira Internacional do Livro de Jerusalém. Além de realizarem palestras na Universidade Hebraica de Jerusalém e conhecer lugares sagrados, cada autor escreverá um versículo para o projeto do Livro Santo "Autores do mundo escrevem a Bíblia". Prevejo fortes represálias. Ainda assim, acho que vou querer colocar minhas mãos nisso.





Réplica ao Brasil

Coisa sensacional esse perfil da Vejinha sobre Charles Cosac, o dono da editora Cosac Naify.





Marião Bortolotto no Oscar

Walter Salles filmará o clássico beat On the Road de Jack Kerouac. O lançamento está previsto para 2009, juntamente com um documentário chamado Searching for On the Road. Serão dois filmes sobre o livro. O elenco ainda não foi definido, está em aberto. Espero que Salles bata um papo com o Marião Bortolotto, que fez uma baita sucesso com a peça Kerouac. Cheguei a assistir na época e fiquei impressionado com a energia da encenação. Pelo ótimo Diário de Motocicletas, Salles provavelmente irá chamar alguém mais novo e famoso, talvez também pela época do livro e da vida de Kerouac. Devem existir um monte, só não consigo imaginar outro ator que encarne Kerouac tão bem quanto Bortolotto, em todos os sentidos imagináveis.





Retrato de um fotógrafo quando jovem

Solon Brochado me enviou ontem um artigo em formato de slide show chamado "Rethinking Henri Cartier-Bresson" da revista eletrônica Slate. Ele mostra o início da carreita do Cartier-Bresson e sua evolução como fotógrafo. Assim como a maneira como as pessoas viram o seu trabalho ao passar dos tempos. Achei o artigo muito interessante por dar uma leve noção das transformações que ocorreram no olhar do maior fotógrafo de todos os tempos.





Meu livro de fotografia predileto – Henri Cartier-Bresson

Ganhei de presente de aniversário da minha namorada o livro que mais cobiçava do Henri Cartier-Bresson, À Propos de Paris. Que felicidade foi abrir a caixa onde ele estava e ver a foto aniquiladora da capa. Eu adoro essa capa. É incrível como esse livro é completo em tantos estilos diferente. Se fosse escolher ter só um livro de fotos, sem dúvida seria esse. Foi com ele que aprendi a gostar e a olhar fotografia. Obra-prima inigualável.





Ciça no Portal Literal

Cristiane Costa passou o bastão e Cecilia Gianetti é a nova editora do Portal Literal.





O Maior Fotógrafo do Brasil

Mesmo gostando muito de foto nunca tinha comprado um livro de fotografias. Só os folheava dentro das livrarias, olhava o preço, chorava e ia embora. Eis que no último dezembro comprei meu primeiro livro de fotografias. Resolvi me dar de presente de Natal. Foi engraçdo porque, quando o vi, não tive dúvidas, tive um espasmo mental instantâneo: "Vou comprar”.

Ouvi falar de Otto Stupakoff pela primeira vez em junho de 2005. Foi em uma matéria do Maurício Stycer na Carta Capital. Ele comentava do redescobrimento do fotógrafo graças a uma exposição organizada pelos também fotógrafos e fãs Bob Wolfenson e Fernando Lazslo. Procurei algumas fotos do Stupakoff na internet, gostei muito e sempre acompanhei o que saia de matéria sobre ele. Ignácio Loyola Brandão comentou sobre essa redescoberta na Vogue Brasil com um texto entitulado “O olhar que ninguém tem”. É um título perfeito. Por essas e outras não tive dúvida quando vi que a caprichosa Cosac Naify tinha publicado um livros com as principais fotos dos mais de 50 anos de carreira de Stupakoff.

Otto Stupakoff é reconhecido como o primeiro fotógrafo de moda do Brasil. Mas ele é um fotógrafo completo. A moda acabou sendo a melhor maneira que ele encontrou para se expressar. Com suas fotos, descobri uma coisa totalmente nova com relação à fotografia: aprecisar a foto de moda desprovido de todo preconceito com a futilidade que o mundo fashion remete. O olhar de Stupakoff é único porque suas fotos vão além dos modismos e últimas tendências. Talvez essa seja a principal motivo que o diferencie e coloque num degrau tão acima de qualquer outro fotógrafo de moda do Brasil. Talvez os tempos fossem outros, Stupakoff simplesmente negava trabalho se não se sentia conectado a ele. A arte sempre vinha em primeiro lugar.

Sua vida é o clichê do fotógrafo. Viajou o mundo todo. Teve casos com mulheres lindíssimas. Foi casado com uma Miss Universo. Chegou aos Estados Unidos aos 16 anos para estudar fotografia e, perdido em Nova Iorque, foi acolhido por Carmen Miranda, com quem teve um caso. Ela gostava de garotos novinhos. Trabalhou a vida inteira nas revistas mais baladas de moda: Harper’s Bazzar, Esquire, Cosmopolitan, Glamour, Vanity Fair e Vogue's de meia dúzia de países. Fotografou as maiores estrelas e celebridades da época. Richard Nixon o contratou para tirar a foto de sua filha, para fica em sua mesa de trabalho. Trabalhou no time dos melhores do mundo. Só para terem uma noção, alguns de seus melhores amigos eram os fotógrafos Richard Avedon e Diane Arbus. Os três tinham o costume de jantarem juntos pra conversar. E pensar que ele era praticamente desconhecido no Brasil.

O que me faz gostar tanto das fotos de Stupakoff é que ele sempre tenta dar ao seu trabalho um aspecto de foto de família. Isso adiciona um diferencial enorme em seu trabalho. Talvez por isso elas sejam tão próximas e calorosas, sem o distanciamento e a frieza que a publicidade moderna adicionou às imagens. Sobre isso, Stupakoff já disse: "Demorei a entender que este era o diferencial de minhas fotografias. Elas deveriam parecer instantâneos feitos nas férias, imagens que faríamos de nossos familiares. É assim que eu vejo a fotografia."

O diferente em um livro de fotografia é que você olha pela primeira vez e acha que vai enjoar rápido. O engraçado é que, com um certo apaziguamento da mente, essa sensação se transforma numa descoberta incrível da possibilidade de aprofundar cada vez mais, e reconhecer cada vez mais, porque aquele fotógrafo é considerado tão especial. Chega a parecer com literatura, onde abrimos os olhos para sensações que nunca tinhamos experimentado antes. Foi um prazer enorme comprar o livro. Otto Stupakoff é, pra mim, de longe, o maior fotógrafo que o Brasil já teve.