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O Maior Fotógrafo do Brasil

Mesmo gostando muito de foto nunca tinha comprado um livro de fotografias. Só os folheava dentro das livrarias, olhava o preço, chorava e ia embora. Eis que no último dezembro comprei meu primeiro livro de fotografias. Resolvi me dar de presente de Natal. Foi engraçdo porque, quando o vi, não tive dúvidas, tive um espasmo mental instantâneo: "Vou comprar”.

Ouvi falar de Otto Stupakoff pela primeira vez em junho de 2005. Foi em uma matéria do Maurício Stycer na Carta Capital. Ele comentava do redescobrimento do fotógrafo graças a uma exposição organizada pelos também fotógrafos e fãs Bob Wolfenson e Fernando Lazslo. Procurei algumas fotos do Stupakoff na internet, gostei muito e sempre acompanhei o que saia de matéria sobre ele. Ignácio Loyola Brandão comentou sobre essa redescoberta na Vogue Brasil com um texto entitulado “O olhar que ninguém tem”. É um título perfeito. Por essas e outras não tive dúvida quando vi que a caprichosa Cosac Naify tinha publicado um livros com as principais fotos dos mais de 50 anos de carreira de Stupakoff.

Otto Stupakoff é reconhecido como o primeiro fotógrafo de moda do Brasil. Mas ele é um fotógrafo completo. A moda acabou sendo a melhor maneira que ele encontrou para se expressar. Com suas fotos, descobri uma coisa totalmente nova com relação à fotografia: aprecisar a foto de moda desprovido de todo preconceito com a futilidade que o mundo fashion remete. O olhar de Stupakoff é único porque suas fotos vão além dos modismos e últimas tendências. Talvez essa seja a principal motivo que o diferencie e coloque num degrau tão acima de qualquer outro fotógrafo de moda do Brasil. Talvez os tempos fossem outros, Stupakoff simplesmente negava trabalho se não se sentia conectado a ele. A arte sempre vinha em primeiro lugar.

Sua vida é o clichê do fotógrafo. Viajou o mundo todo. Teve casos com mulheres lindíssimas. Foi casado com uma Miss Universo. Chegou aos Estados Unidos aos 16 anos para estudar fotografia e, perdido em Nova Iorque, foi acolhido por Carmen Miranda, com quem teve um caso. Ela gostava de garotos novinhos. Trabalhou a vida inteira nas revistas mais baladas de moda: Harper’s Bazzar, Esquire, Cosmopolitan, Glamour, Vanity Fair e Vogue's de meia dúzia de países. Fotografou as maiores estrelas e celebridades da época. Richard Nixon o contratou para tirar a foto de sua filha, para fica em sua mesa de trabalho. Trabalhou no time dos melhores do mundo. Só para terem uma noção, alguns de seus melhores amigos eram os fotógrafos Richard Avedon e Diane Arbus. Os três tinham o costume de jantarem juntos pra conversar. E pensar que ele era praticamente desconhecido no Brasil.

O que me faz gostar tanto das fotos de Stupakoff é que ele sempre tenta dar ao seu trabalho um aspecto de foto de família. Isso adiciona um diferencial enorme em seu trabalho. Talvez por isso elas sejam tão próximas e calorosas, sem o distanciamento e a frieza que a publicidade moderna adicionou às imagens. Sobre isso, Stupakoff já disse: "Demorei a entender que este era o diferencial de minhas fotografias. Elas deveriam parecer instantâneos feitos nas férias, imagens que faríamos de nossos familiares. É assim que eu vejo a fotografia."

O diferente em um livro de fotografia é que você olha pela primeira vez e acha que vai enjoar rápido. O engraçado é que, com um certo apaziguamento da mente, essa sensação se transforma numa descoberta incrível da possibilidade de aprofundar cada vez mais, e reconhecer cada vez mais, porque aquele fotógrafo é considerado tão especial. Chega a parecer com literatura, onde abrimos os olhos para sensações que nunca tinhamos experimentado antes. Foi um prazer enorme comprar o livro. Otto Stupakoff é, pra mim, de longe, o maior fotógrafo que o Brasil já teve.