Não esperava ser tão surpreendido pelo filme O Perfume - A História de um Assassino. Esperava um thriller tradicional, com um mistério envolvendo assassinatos em série e investigação na Europa do século 19. Mas todo esse enredo fica em segundo plano diante as emoções que o filme é capaz de transmitir, deixando o espectador pasmo em um universo de sensações desconhecidas.
Baseado no livro de Patrick Suskind, um bestseller mundial nos anos 80, O Perfume conta a história de Jean Baptiste-Grenouille, um ser humano com uma capacidade olfativa extraordinária, capaz de reconhecer todos os cheiros do mundo. Porém, devido sua infância e juventude escravizada no trabalho em um curtume, é totalmente desprovido de sentimentos. Ele não sente emoções, só cheiros. E através deles que ele se relaciona com o mundo.
Graças ao seu incrível talento, consegue sair do curtume quando o decadente perfumista Giuseppe Baldini o descobre e o compra. Todos os segredos do melhor perfume de seu tempo que Baldini deseja descobrir, seu novo aprendiz produz na hora. É experimentando a infinidade de cheiros da cidade que Jean Baptiste-Grenouille conhece sua obsessão: o cheiro que exala do corpo e cabelo de uma jovem vendedora de pêssegos. Com as técnicas aprendidas na extração do aroma das flores é que ele busca extrair a essência da fragrância de corpos femininos, na tentativa de produzir o melhor dos perfumes.
A beleza e o erotismo são temas presentes em todo filme. O diferente é que eles estão presentes em situações onde supostamente são incapazes de penetrar. Seja em um assassinato, em um corpo morto, ou na própria mente de Jean Baptiste-Grenouille. O exagero do belo quase atrapalha a experiência, mas ainda assim nos perturba por sugerir que os assassinatos fazem parte de uma beleza maior. Incomoda a falta de sentimentos e moral de Grenouille parecer fazer parte da gente.
As reviravoltas que acontecem na história nos últimos 20 minutos do filme apenas elevam esses sentimentos estranhos. O projeto do perfume perfeito é realizado. Só depois de perceber o que uma gota dele é capaz de provocar nas pessoas que Grenouille percebe o seu vazio e incapacidade de compartilhar um sentimentos. E tudo que lhe resta é a busca por sua própria dissolução no local onde nasceu. São elementos de difícil compreensão que fazem o final ser tão bom. E apesar do filme ter claros propósitos comerciais, os motivos que me fizeram gostar dele ficaram longe de ser apenas mérito meu.