Samjaquimsatva | |
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McCarthy na Oprah Por mais questionáveis que sejam os propósitos, a Oprah Winfrey indicando o aclamado livro The Road do Cormac McCarthy para o seu Book Club mostra a distância cultural que existe entre o Brasil e os Estados Unidos. Quando um programa totalmente popular por aqui indicaria literatura de primeira para seus espectadores? É difícil imaginar. E não é a primeira vez que a Oprah faz isso. Em meio aos auto-ajudas tradicionais, ela já indicou Jonathan Franzen e mais antigamente até William Faulkner. Alguns intelectuais lá de fora vêem isso com maus olhos - que vejam e discutam, ao menos. O interessante é que o recluso Cormac McCarthy aceitou ir ao programa discutir o livro. Será a primeira entrevista que ele dará para televisão em seus 74 anos de idade. Sobre Amores Expressos Bobeira demais a tal polêmica em torno do projeto "Amores Expressos" de Rodrigo Teixeira. A idéia de mandar 16 autores nacionais para 16 cidades do mundo, cada um tendo que trazer uma história de amor, é sensacional. Ainda mais pela lista ter gente que está começando junto com quem já é consagrado. A tal polêmica gira em torno dos organizadores, Teixeira e João Paulo Cuenca. No dia seguinte da matéria sobre o projeto da Folha de S. Paulo (para assinantes), o escritor Marcelo Mirisola, obviamente fora da lista, mandou uma carta ao jornal (também para assinantes) criticando o projeto, dizendo que é uma panelinha de amigos de farra pleiteando uma grana da lei Rouanet. Pode-se discutir quem ficou de fora e quem entrou pra lista. Eu mesmo indicaria vários outros nomes para ela. Mas é preciso deixar a vaidade de lado e reconhecer que todos ali são bons. E não consigo deixar de achar muito bom que um dinheiro desse esteja sendo investido em autores, literatura e na produção de livros. Os melhores serão publicados em uma coleção pela Companhia das Letras. A tal polêmica me lembrou de alguns encontros de escritores que estive presente. Além das ótimas conversas que rolam, dá pra perceber que vaidade de escritor, ainda mais principiante, é uma coisa delicada. Não estou falando do Mirisola, que nem conheço pessoalmente e muita gente que admiro é fã, mas foi uma relação que fiz dessa polêmica com esses encontros. Infelizmente, faz todo sentido. O que me interessa disso tudo - e o que deveria ser considerada como uma ótima notícia para quem gosta de literatura no Brasil - é que Joca Reiners Terron está indo para o Cairo escrever um livro. Lourenço Mutarelli para Nova Iorque. Bernardo Carvalho para São Petersburgo. Daniel Galera para Buenos Aires. Marçal Aquino para Roma. Entre vários outros. Vai ser difícil sair algo mais ou menos disso. Faço meus votos o do Vinícius Jatobá, crítico de livros do Estadão e autor do blog Outra Babel, no Todaprosa: "Espero que os 16 livros sejam publicados, que seja um sucesso de vendas esse projeto, e que o mercado se torne mais profissional, e o público se torne curioso em consumir os romances de autores nacionais. (...) Grandes livros só surgirão da demanda por livros. Não há outro caminho." Tome uma xícara de Charles Fiquei surpreso e muito feliz: a Angélica Freitas publicou um livro com suas poesias pela Cosac Naify. Angie foi amiga de comentários deste blog em seus primórdios. Daqui a pouco vai ficar difícil dizer que os bons da minha geração não foram reconhecidos. Oblivion Apesar de denso barbaridade, li rápido o Oblivion do David Foster Wallace. Um mês. Não foi uma revelação. Muitos dos temas tratados nos contos do livro já aparecem em outros trabalhos do autor. Está lá a apropriação da ideologia da contracultura pela publicidade, o sofrimento físico e psicológico além da imaginação, a solidão entre as pessoas e o esforço/incapacidade delas para comunicar/sentir/expressar algo de verdadeiro/sincero/real. Nada foi novidade, mas o livro vale muito a pena porque é uma evolução disso tudo. Digamos que ele seja mais indicado para os aficionados. O melhor conto do livro chama-se “Gold Old Neon”. Nele o narrador conta a história da fraude completa que é sua vida. Ele começa assim, com o perdão da tradução livre: “Minha vida inteira eu tenho sido uma fraude. Não estou exagerando. Quase tudo que eu faço o tempo todo é tentar criar uma certa impressão de mim nas outras pessoas. Geralmente para ser querido ou admirado. É um pouco mais complicado que isso, talvez. Mas quando você vai direto ao ponto é para ser querido, amado.” O sujeito se encontra preso em um paradoxo da fraude de sua existência, pois “quanto mais tempo e esforço você coloca em tentar parecer impressionante ou atrativo para outras pessoas, menos impressionante e atraente você se sente por dentro – você é uma fraude”. E o que segue são 40 páginas sobre a repulsa que suas atitudes lhe causam, incluindo suas visitas ao analista, o sexo desenfreado, a castidade, o uso de drogas, etc. Tudo lhe causa vazio e horror. Todas suas ações são uma fraude, pois ele não consegue agir de outra forma que não seja para ser querido, amado, aceito, aprovado. Ao passar das 40 páginas com a descrição disso tudo, o narrador nos avisa: “Eu sei que essa parte é entediante e provavelmente está chateando você, mas, a propósito, fica um bocado mais interessante quando eu chegar na parte em que eu me mato e descubro o que acontece exatamente após uma pessoa morrer.” E temos mais 30 páginas de incríveis descrições e insights filosóficos sobre a idéia de tempo e realidade, além do pesadelo que é ser incapaz de ser original. A complexidade e clareza da escrita me fez pensar que realmente aquilo é algo muito próximo da natureza da realidade. È o melhor conto que já li dele. Pra se ter uma idéia, é como se fosse o conto “A Pessoa Deprimida” elevado à décima potência. Há também o engraçadíssimo “The Suffering Channel”, que narra a tentativa de um jornalista veterano da revista Style de escrever um perfil de um artista plástico cuja matéria prima de suas obras é a suas próprias fezes. É engraçado toda a filosofia sobre a merda. Me diverti também com as 50 páginas do conto que dá título ao livro, onde um homem conta ao seu sogro os problemas de seu casamento, que se concentram na reclamação de sua esposa de que ele ronca. Ele diz para ela que ele nunca está dormindo quando ela reclama, e que ela está tendo sonhos repetidos em que ele ronca. Os enredos de todos os contos são banais, mas os detalhes que o cercam são levados às últimas conseqüências, com descrições e divagações e palavras complexas que colocando a prova a energia do leitor mais persistente. Isso tudo, de certa forma, me lembrou Kafka. Tirando as neuroses internas de cada personagem, pouca coisa acontece nos contos. Nada progride, tudo do mundo aparente é praticamente sem atividade, muito pelo contrário do interior das pessoas. O projeto literário de Foster Wallace, explicitado nesse livro, é algo que beira a loucura. Isso porque sua dedicação e genialidade condensada em seus textos super longos irá sempre se barrar na incapacidade de emular com perfeição toda a carga e interconexão de sentimentos, pensamentos, informações e experiências de vida que um ser humano é capaz de sentir no menor dos instantes. Essa idéia e o título do livro, que em português significa esquecimento, combinam de maneira bem agradável para mim. Mas beira a loucura porque, ainda assim, com sua habilidade incrível e muito além de seus pares, ele se esforça na tentativa de mostrar o universo que há dentro de cada pessoa, todas as conexões e vozes que existem dentro de cabeça de cada ser humano, a sinfonia desse infinito de contradições que jamais seremos capazes de transmitir para outra pessoa. Quarto de escritores O Guardian Books tem uma seção sobre o quarto de escritores, onde há uma foto e uma pequena descrição do local onde eles trabalham. Não conheço nenhum da lista, mas tomara que o projeto siga em frente. Além de ser interessante por motivos decorativos, nada diz mais sobre uma pessoa que seu quarto. Meu predileto é do David Hare. A cadeira de madeira parece ser muito confortável e a mesa gigante é exatamente a que quero ter para o computador em minha futura casa. Fogo precisa de ar Legal a entrevista da Carla Rodrigues com a terapeuta Esther Perel sobre solidão e erotismo. Borat, o filme Fui assistir Borat com a expectativa de ver um dos filmes mais engraçados de todos os tempos. Pelo trailer e pelos vídeos no Youtube, era o mínimo que se podia esperar. Além do mais, Sacha Baron Cohen levou o Globo de Ouro de melhor ator de comédia e Borat foi até sondado para apresentar o Oscar, além de estar indicado na categoria de melhor roteiro adaptado. Para minha surpresa e decepção, Borat passa longe de funciona bem como longa metragem. O que é engraçado nos quadros do Borat no programa Da Ali G. Show gradualmente vai perdendo força no filme. Desgasta e fica chato, forçado. Pior: o caráter real das entrevistas no programa perde-se no filme, onde a maioria dos encontros de Borat parece ser combinado, forjado. Além de engraçado, esperava um humor muito inteligente, apresentado uma crítica afiada aos Estados Unidos de uma maneira até então nunca feita. A crítica existe, mas seus momentos são tão curtos e rasos que praticamente passam desapercebidos para o espectador desatento. Quase somem dentro do filme. No rodeio, quando Borat diz frases grotescas de apoio à guerra no Iraque, chega a um ponto em que até o eleitorado de Bush mostra sinais de repúdio. Um amigo que viu o filme antes de mim comentou “Ele destrói o Cazaquistão”. Fiquei quieto, pensando que ele não tinha entendido absolutamente nada do filme. Depois que saí da sessão do cinema, ironicamente tive que concordar com ele. O filme chega a ser quase inofensivo quanto à crítica aos Estados Unidos. Até sua metade dá pra divertir e achar muita graça, pra depois ele simplesmente ir perdendo toda sua força e espontaneidade. Sacha Baron Cohen é muito bom. Os sketches de seus personagens Bruno, Ali G e Borat em seu programa são engraçadíssimos. Principalmente o Bruno, um repórter gay de moda que tira um baita sarro do universo fashion. Ele mostra como poucos o lado ridículo das pessoas. É um humor é muito criativo e veloz. Chega a ser quase triste tudo isso simplesmente não funcionar no filme. A sensação que fica é a mesma de ver por inteiro o programa do Pânico na tevê. Adoro o humor de Cohen, mas fiquei sem entender a avalanche de críticas positiva ao filme e seu baita sucesso de bilheteria. Traduzindo Thomas Pynchon Quando, em 2000, a Companhia das Letras me incumbiu de traduzir o novo romance de Thomas Pynchon, Mason & Dixon, minha reação foi um misto de entusiasmo e trepidação. Até então, o maior desafio em toda a minha carreira profissional fora a tradução da obra-prima de Pynchon, Gravity's rainbow, romance experimental que apresentava (pensava eu na época) todos os tipos de dificuldade que um tradutor literário poderia imaginar. Após a perplexidade dos primeiros capítulos, eu me deixara envolver pelo fascínio verbal dessa obra única, e finda a empreitada, onze meses depois do início, já havia me transformado num admirador de Pynchon. Assim, a idéia de voltar a mergulhar no universo fantástico desse autor era estimulante. Ao mesmo tempo, porém, sentia-me um tanto apreensivo com relação a Mason & Dixon. Paulo Henriques Britto comenta sobre os três anos que passou traduzindo o Mason & Dixon de Thomas Pynchon (via Tiago). Há rumores sugerindo que ele está, nesse exato momento, traduzindo o novo livro de Pynchon, Against the Day. Tomara que seja verdade. De certa forma, é uma boa notícia pra quem espera que a editora invista na tradução de mais livros do David Foster Wallace no país. Possível crise de imagem aflige famosa artista pop Após tentar se enforcar com um lençol em uma clínica de reabilitação por uso de tóxicos, com o número 666 inscrito na cabeça raspada no zero, a pop star Britney Spears pronunciou: "Eu sou o anticristo". Passado o momento de euforia, sentiu-se otimista e com planos de reatar seu casamento. Em telefonema privativo a seu ex-marido, declarou que ainda o ama. Um detalhe importante não mencionado acima é que, após intitular-se como sendo aquele que dominará o mundo naquele que será os últimos dos nossos dias, concluiu em suposto desespero e crise de identidade: "Sou uma farsa, sou uma farsa". Mais informações a qualquer momento. Design de Logos e Marcas Para os publicitários chorarem: Uma lista gigante de logos e marcas famosas e a história por trás de seus design. via Kottke |
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