Bobeira demais a tal polêmica em torno do projeto "Amores Expressos" de Rodrigo Teixeira. A idéia de mandar 16 autores nacionais para 16 cidades do mundo, cada um tendo que trazer uma história de amor, é sensacional. Ainda mais pela lista ter gente que está começando junto com quem já é consagrado.
A polêmica gira em torno do custo do projeto. São R$ 1,2 milhões provenientes da Lei Rouanet. É uma verba pública vinda da renúncia fiscal de empresas e pessoas físicas que desejam financiar projetos culturais. Além da estadia de 1 mês com tudo pago, cada autor receberá R$ 10 mil de adiantamento.
A tal polêmica gira em torno dos organizadores, Teixeira e João Paulo Cuenca. No dia seguinte da matéria sobre o projeto da Folha de S. Paulo (para assinantes), o escritor Marcelo Mirisola, obviamente fora da lista, mandou uma carta ao jornal (também para assinantes) criticando o projeto, dizendo que é uma panelinha de amigos de farra pleiteando uma grana da lei Rouanet.
Pode-se discutir quem ficou de fora e quem entrou pra lista. Eu mesmo indicaria vários outros nomes para ela. Mas é preciso deixar a vaidade de lado e reconhecer que todos ali são bons. E não consigo deixar de achar muito bom que um dinheiro desse esteja sendo investido em autores, literatura e na produção de livros. Os melhores serão publicados em uma coleção pela Companhia das Letras.
A tal polêmica me lembrou de alguns encontros de escritores que estive presente. Além das ótimas conversas que rolam, dá pra perceber que vaidade de escritor, ainda mais principiante, é uma coisa delicada. Não estou falando do Mirisola, que nem conheço pessoalmente e muita gente que admiro é fã, mas foi uma relação que fiz dessa polêmica com esses encontros. Infelizmente, faz todo sentido.
O que me interessa disso tudo - e o que deveria ser considerada como uma ótima notícia para quem gosta de literatura no Brasil - é que Joca Reiners Terron está indo para o Cairo escrever um livro. Lourenço Mutarelli para Nova Iorque. Bernardo Carvalho para São Petersburgo. Daniel Galera para Buenos Aires. Marçal Aquino para Roma. Entre vários outros. Vai ser difícil sair algo mais ou menos disso.
Faço meus votos o do Vinícius Jatobá, crítico de livros do Estadão e autor do blog Outra Babel, no Todaprosa: "Espero que os 16 livros sejam publicados, que seja um sucesso de vendas esse projeto, e que o mercado se torne mais profissional, e o público se torne curioso em consumir os romances de autores nacionais. (...) Grandes livros só surgirão da demanda por livros. Não há outro caminho."