Samjaquimsatva


 

Quarto de escritores: Will Self, parte 2

Preparem-se para mais de 50 fotos da loucura de post-it do escritório do Will Self.





Churras

Cão Sem Dono, filme de Beto Brant baseado no livro de Daniel Galera, levou os prêmios de melhor longa-metragem, crítica e melhor atriz na 11ª edição do Cine PE. Parabéns, Tainá!





O melhor livro brasileiro dos últimos 25 anos

Fiz parte dos "53 escritores, críticos e editores brasileiros" que o Todoprosa entrevistou para eleger o principal livro brasileiro de ficção dos últimos 25 anos. Lisonjeado fiquei e despreparado me senti para respondê-la. Leio muito mais autores estrangeiros que nacionais. Ainda não li Bernardo Carvalho, Milton Hatoum, Sérgio Santana, Rubem Fonseca, Érico Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, Ignácio de Loyola Brandão, Rachel de Queiroz – a lista é longa. Não li nem Guimarães Rosa, que Cormac McCarthy está me deixando com muita vontade e conhecer. Pois é.

O vencedor foi Viva o povo brasileiro de João Ubaldo Ribeiro, um bitelo de 700 páginas. Alguém já leu? Em segundo lugar ficou Dois irmãos de Milton Hatoum e Quase memória de Carlos Heitor Cony. Só um livro poderia ser indicado. Depois de pender para Fausto Wolff, João Gilberto Noll e Daniel Pellizzari, minha indicação foi para Curva de rio sujo de Joca Reiners Terron. Não pensei sobre estrutura e grandiosidade das obras, mas naquela cujo o uso das palavras mais me impressionou.

Curva de rio sujo pra mim extrai uma beleza da língua portuguesa de uma maneira única. No livro não há frases de efeitos e momentos altos e baixos - nem qualquer vestígio de afetação do escritor com as palavras. Na minha cabeça, o conjunto de cada palavra que contrói aqueles mundos transforma-se em algo mágico que, quando você vai procurar pelo texto, não encontra. É quase um mistério pra mim o que representa os textos do Joca Reiners Terron. Por isso foi a minha escolha.

A imperfeição das listas de melhores vale a pena pela discussão e opinião que surgem de várias outras pessoas. Pode-se descobrir muitas coisas boas nessas conversas. Sintam-se à vontade para indicarem nos comentários seu livro brasileiro predileto dos últimos 25 anos.





Quarto de escritores: Will Self

O The Guardian Books visitou o quarto onde o escritor Will Self (Minha Idéia de Diversão, Os Grandes Simios) escreve seus livros. Caverna fetichista de post-it fora de controle.





Soares Silva adapta Allen Ginsberg

Alexandre Soares Silva fez um pastiche do poema "Uivo" de Allen Ginsberg adaptando o desespero do poeta beat para o nosso tempo. Ficou simplesmente brilhante e incrivelmente triste.





Salve satã e ponto final

Satanique Samba Trio está de sítio novo. Novo design, maldições e três peças musicais inéditas carregadas de energia negativa em formato MP3. Atentem para canção "Comendo faca". Não a toquem mais de três vezes em seguida. O site novo é para disco novo, Sangrou, que pode ser adquirido através do site da Amplitude. Sem mais, adeus.





Pulitzer 2007 de Fotografia

O prêmio "fotógrafo em destaque" do Pulitzer 2007 foi para a fotógrafa Renee Byer do jornal Sacramento Bee. Ela fotografou uma mãe solteira e seu filho pequeno durante a perda na luta contra um câncer. Eu vejo muita foto mas esse ensaio foi o primeiro que me trouxe lágrimas aos olhos. Hesitei em compartilhar, mas achei que devia porque as fotos não trazem apenas tristeza - tem algo a mais nelas. E porque é tão difícil retratar esses momentos em fotografia de maneira digna e essa fotografa conseguiu tão bem que vale a pena a experiência.

A galeria do Pulitzer.

As fotos diagramadas nas páginas do jornal.





McCarthy leva o Pulitzer

Cormac McCarthy levou o Pulitzer 2007 de ficção com o The Road. Depois de ganhar até a escolha da Oprah, parece que ele vai levar tudo esse ano. Quem deve estar feliz é a Alfaguara (Objetiva) que vai lançar o livro no Brasil. Eu estou me preparando pro bichão, na minha cabeceira está a trilogia da fronteira do autor: Todos Os Belos Cavalos, A Travessia e Cidade das Planícies, publicados pela Companhia das Letras entre 1993 e 2001.





Daniel Galera é pior que James Joyce

Vocês não acham estranho comparar Daniel Galera a James Joyce? Ou comparar seu segundo livro Até o dia em que o cão morreu, de 100 páginas, com o catatau Ulisses, de quase 1.000? É o que Ricardo Lísias fez na crítica ao livro no Estadão desse domingo (para assinantes). A dica que ele dá é que vocês não precisam ler Daniel Galera – James Joyce, Charles Baudelaire e J.D. Salinger já fizeram melhor escrevendo sobre o cansaço da modernidade. Talvez esse seja o caso da crítica que acaba sendo o melhor dos elogios. Ou de ninguém de ler mais nada além de Kafka.

Quando leio uma crítica de livro no Estadão, quase nunca sinto que o crítico não entendeu o livro. E pra quem é leitor, não entender um livro é coisa mais do que normal. Lísias só não captou tudo do livro – nem sequer escreveu o título certo na resenha. Por isso que a solidão e atitude anti-social do narrador pareceram rasas e, pra dizer uma palavra de gosto dos críticos, pueril. Lísias achou que “o clichê máximo do livro é a tentativa de compor certa juventude sem grandes aspirações”, sendo que o livro é sobre a tentativa de um jovem para compor uma vida de grandes aspirações e sentido.

O crítico também achou que a depressão do narrador é bastante feliz, já que ele toma cerveja e anda de moto. Estranho, ainda mais numa sociedade onde a depressão nunca conviveu tão próxima dos ideais de sucesso, beleza e felicidade que tanto nos hipnotizam.

Até o dia em que o cão morreu é um livro pequeno e simples. Ainda carrega os traços minimalistas e cortes cirúrgicos dos contos de Galera. Logo, é fácil não captar o que há por trás da narrativa. Por isso que o Lísias achou que o livro não traz nenhum tipo de profundidade. Mesmo Galera dando a dica antes do livro começar, com a citação de Georges Bataille: “O que desejamos é trazer para um mundo fundamentalmente descontínuo toda a continuidade que ele pode sustentar”.

Escrever talvez seja o ato que mais pode expor e dizer contra uma pessoa. Um crítico que assume ares de pompa pode estar numa situação mais delicada ainda. Ao menor deslize, seu trabalho torna-se o espelho dele mesmo, ao invés de uma discussão sobre um livro, um filme ou qualquer obra de arte. É normal alguém não entender um livro, mas achei meio desrespeitoso dizer de uma pessoa que se dá o trabalho de escrever literatura com algum grau de originalidade que ela não fez nada além de marketing pessoal.





K. V.

“There is nothing like death to say what is always such an artificial thing to say: The end.

Kurt Vonnegut
1922 — 2007





Mãos de Manga-Larga

Do site da Companhia das Letras:" O romance Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, finalista do Prêmio Bravo 2006, será publicado na França pela editora Gallimard, na Argentina pela Interzona e na Itália pela Mondadori." Dá-le!





Com a palavra, Sérgio Rodriguez

Sérgio Rodriguez, do Todoprosa, em duas entrevistas: Digestivo Cultural e hoje às 21h30 no "Espaço Aberto" da Globonews com Edney Silvestre. Volta Bial.





Chá Lá Lá

Que tal uma versão do Mogwai para a música "Gouge Away" do Pixies? Irá acontecer.





Reparação

Ian McEwan clama por obscuridade enquanto seu novo romance, On Chesil Beach, acaba de ser lançado lá fora. O tema é interessante: um casal tentando superar o constrangimento de sua noite de nupcias no início dos anos 60, antes da revolução sexual transformar o comportamento das pessoas. E não sabia, em 2002 ele descobriu que tinha um irmão, que foi revelado a imprensa em janeiro. Sua mãe o tinha dado para adoção, já que foi um filho provindo de um caso extraconjugal durante a 2ª Guerra, quando seu marido lutava no campo de batalha. A descoberta que não alterou a opinião de McEwan sobre seus pais: "Seria preciso ter vivido uma guerra, mergulhado nas atitudes sociais da época, para compreender." Acho que vou querer ler seu novo livro. Um trecho foi publicado na New Yorker em dezembro.





Emoções como commodities cultural
Eu penso muito sobre como as emoções se tornaram um tipo de commodity cultural, que pode ser oferecida para consumo do público. Por isso, pessoas comuns são cada vez mais usadas em shows de TV, justamente porque as emoções que nos oferecem parecem mais genuínas do que as vividas pelos personagens da ficção. (...) Nós censuramos o programa (Big Brother) porque pessoas de verdade são forçadas a viver situações extremas de estresse para o entretenimento de outros, mas permanecemos em frente da TV porque é fascinante ver como aqueles confinados reagem. Eu detestava o Big Brother até o ano passado, quando me peguei assistindo ao programa todas as noites, exatamente porque me interessei pela história de um sujeito em particular.

Stuart Walton, historiador e autor do livro Uma História das Emoções (Record), em entrevista ao Estadão sobre a evolução das emoções. É talvez a melhor opinião que saiu em um jornal sobre o Big Brother - enquanto essa da Folha foi a pior, critica e ao mesmo tempo traz várias imagens do Alemão nu.

Esse Big Brother darwiano foi o melhor de todos. As tramas em si não se diferenciaram muito das novelas da Globo, mas certamente parecem mais genuínas que a maioria dos folhetins que a emissora produz. Esse foi o melhor programa porque Alemão foi o melhor personagem até então: carismático, bonito, complexo e inteligente. Boninho acertou ao evitar que algum desfavorecido, oprimido ou ingênuo novamente causasse apelo ao público.

E ninguém fica imune ao Big Brother. O maior exemplo disso é a quantidade de crítica que o programa recebe. É só dizer que você gosta de Big Brother pra sentir isso. Gosto de perceber como a indústria do entretenimento consegue incomodar desde o mais intelectual e fascinar o mais simples com um magnetismo tão parecido. Ninguém escapa.





Livros vs Pessoas
Adoro livros. E foram inúmeras as ocasiões na vida em que preferi livros à pessoas. O silêncio, a imaginação, a relação com o texto mil vezes me pareceram mais atraente do que o alarido de conversas vazias.

Carla Rodrigues lembra como o livro é sempre uma boa companhia. Depois que comecei a ler - tarde, por sinal - nunca mais consegui ficar sem a companhia de um livro. De pessoas, sim, várias vezes, sem problema. Com livros, nunca me senti sozinho. Com pessoas, várias vezes. A sensação de estar vivo que um livro proporcia é talvez única. Se fico sem ler, parece que estou vivendo menos, jogando minha vida fora vendo as coisas apenas da minha perspectiva, que sempre será limitada. Mas não chego a preferir livros mais que pessas. Os dois se comunicam sempre. Um enriquece o outro. O alarido de conversa vazias é carregadíssimo de significados ricos e interessantes. Com a diferença de que enche o saco. Como alguns livros.





Resolução do olho humano

O olho humano é equivalente a uma câmera de 576 megapixel.

No escuro, ele trabalha com ISO 800. Durante o dia, ISO 1.

A distância focal é de geralmente 22mm e a abertura máxima em média é f 3.5.

A abertura máxima diminui com a idade.