Samjaquimsatva | |
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Perder é sempre ganhar David Foster Wallace em pequenos trechos de vídeo no Le Conversazioni 2006 falando sobre fracasso, linguagem, inspiração e a tradição literária que gostaria de pertencer, caso fosse pertencer a alguma. Seria uma tradição de autores que usam técnicas formais dos pós-modernos dos anos 60 para representar valores tradicionais de espiritualidade, emoções, comunidade, entre outras idéias que esses autores avant-guard considerariam fora de moda. Pra fechar, de bônus, Mário Bortolotto falando sobre desafios. Um parágrafo do McCarthy "Uma paisagem de barracos baixos feitos de estanho e tábuas de caixote nos arredores da cidade. Terra árida e terrenos de carcalho e mais além as planícies de salva e creosoto. Galos cantavam e o ar cheirava a carvão em brasa. Orientou-se pela luz cinzenta no leste e rumou para a cidade. As luzes ainda ardiam longe na manhã fria sob o manto escruto das montanhas naquele isolamento comum às cidades do deserto. Um homem descia a estrada conduzindo um burro sobre carregado com uma pilha de lenha. Os sinos das igrejas começavam a soar na distância. O homem lhe esboçou um sorriso dissimulado. Como se partilhassem um segredo entre os dois. Um que dizia respeito à idade e à juventude e a suas reinvindicações e à justiça dessas reivindicações. E das reivindicações feitas aos dois. O mundo passado, o mundo vindouro. A transitoriedade comum aos dois. Sobretudo em saber do âmago que a beleza e a perda são uma coisa só." Cidade das Planícies, Cormac McCarthy, página 86. McCarthy e Oprah É no dia 5 de junho que vai ao ar a entrevista do Cormac McCarthy na Oprah. Livraria Cultura em Campinas Acontece hoje a inauguração da Livraria Cultura no Conjunto Nacional em São Paulo. São três pisos e 4.300m² de loja. Mas a notícia que gostei de saber é que até 2008 vai haver uma Livraria Cultura no Shopping Iguatemi de Campinas. Demorô. A notícia é da Folha de S. Paulo, para assinantes. Ode a Tarso Jereissati Essa foto da Isabeli Fontana feita pelo J.R. Duran para a campanha do Dia das Mães do Shopping Iguatemi de São Paulo me lembrou Picasso. Das coisas que entendo por poesia Tai: "Dizem por aí que o amor é o encontro de duas almas, mas eu ouso a dizer que é o eterno desencontro entre elas." Livros traduzidos nos EUA Um dado interessante sobre o mercado editorial norte-americano. Somente 3% dos livros publicados nos Estados Unidos são traduções. Pra fazer uma comparação, esse número na França é de 40%. No Brasil, imagino, deve passar fácil os 60%. Me pergunto se isso é puro poder do mercado maldosão, ou se a situação economia de um país está diretamente relacionada com a qualidade/quantidade dos livros que ele produz. Me parece mais a segunda opção. O dado é de uma matéria da revista PublishersWeekly de maio que estou lendo agora. Bobos Blue Bus: "A revista Piauí fechou com a Associaçao Brasileira de Ioiô o patrocinio do Campeonato Brasileiro 2007." Maior escritor vivo FOLHA - Em agosto o senhor comemora 60 anos. É uma data especial? Trecho da entrevista do Paul Rabbit na Folha de S. Paulo (só para assinantes) desta segunda-feira. The 2006 Believer Book Awards Os leitores da revista americana de literatura The Believer e mais 10 escritores fizeram parte da pesquisa que escolheram os livros do prêmio The 2006 Believer Book Awards. Em 1º lugar tá ele de novo, The Road do Cormac McCarthy. Em 5º lugar está um livro e um autor que é um mistério pra mim, The Echo Maker do Richard Powers. Li 200 das 470 páginas desse livro e não achei uma linha interessante. Nem a história, nem a linguagem. E todo mundo fala bem, inclusive o David Foster Wallace. Se alguém já leu e gostou, adoraria saber os motivos. Em 4º, Against the Day do Thomas Pynchon. Em 5º, Black Swan Green do David Mitchell, outro que quero ler. Dois livros que vou esperar pra comprar quando sairem no Brasil. Ao contrário do The Road, que infelizmente não vai rolar ter ele chamando A Estrada. Os espaços em branco da lista são livros de autores de que alguma forma estão envolvidos com a revista. Uma espécie de gracinha típica da revista que é cheia de mimos estéticos. Pacote Mississipi Faulkner Ganhei de presente do meu pai a coleção do Faulkner da Cosac Naify. Creio que são os livros mais bonitos em que já coloquei minhas mãos. Tuco Vieira na Piauí Quase que não compro a Piauí de abril. Comprei ontem. Pois bem, meu primeiro texto foi o "Do Viaduto" do fotógrafo Tuca Vieira da Folha, disponível na íntegra no site da revista. Achei bem interessante para quem gosta de fotografia. Metal em sua essência Os gestos agressivos e os rompantes vocálicos de Lemmy Kilminster, 61, vocalista e baixista da banda de heavy metal Motörhead, são apenas artifícios para manter a sua consagrada imagem de rebelde. Na verdade, Lemmy coleciona os brinquedinhos que vêm dentro dos Kinder Ovos. (Folha Online) De alguma forma isso explica porque as pessoas mais bondosas que conheço são metaleiras. Além das utopias e ideologias modernas [...] Mas ser contra ideologias utópicas não significa abrir mão do senso crítico e, digamos, cair no conto dito 'neoliberal' de que o planeta encontrou o regime adequado para o benefício gradual de todos. E por quê? Porque a crença num conjunto de regras básicas que, adotado por todos, trará uma estabilidade mundial duradoura, o 'fim da história', comete exatamente o mesmo equívoco. Em outro sentido, ideologias nunca deixam de existir; há sempre um corpo de valores hegemônico numa sociedade, que precisa ser contestado de forma permanente. O consumismo e o conformismo de nossos tempos são uma forma de ideologia, até mesmo de utopia, ao embutir a noção de que, por exemplo, bens materiais são fins, e não meios. Então não caia nessa de que vivemos tempos sem utopia nem ideologia. A hipervalorização das aparências prejudica o convívio social ao desprezar o conhecimento e iludir os indivíduos com promessas fáceis de aceitação; endossa sua inclinação infantil ao escape, sua incapacidade de ver a realidade em suas nuances e ironias. [...] Quanto a sugestões de leituras, eu poderia citar muitos pensadores que perceberam o risco do pensamento 'totalizante', que tudo quer explicar e prever - autores de Montaigne a Karl Popper, passando por Nietzsche e mesmo Freud. Mas o curioso é como os artistas sempre tiveram uma visão mais aguda desse problema. De Shakespeare à Doris Lessing de O Sonho mais Doce, passando por nosso Machado de Assis, por Cervantes ou Thomas Mann - ou Rembrandt, Picasso e Hitchcock, Mozart, Beethoven e Tom Jobim -, o que temos é uma compreensão de que a natureza humana não pode ser 'corrigida' por um punhado de boas intenções abstratas. Há quem considere que escrever sobre as artes e a idéias é menos importante do que atacar o político mentiroso do dia, mas eis o que deveria ser o motivo mais profundo para nos determos na produção cultural do passado e do presente: testemunhar por ela o vigor libertário das faculdades humanas diante das ilusões de completude. Se às vezes acho o Daniel Piza meio xarope, às vezes o acho brilhante. Como no trecho acima, da sua coluna "Sinopse" no Estadão de domingo retrasado. É uma resposta a um leitor que o questiona por não acreditar na necessidade da utopia e ideologia em tempos em que a "nossa contemporaneidade está marcada pelo fim de ambas". Ele responde muito bem e ainda aponta sobre a dificuldade que significa ser engajado nos dias de hoje; e como a arte é essencial para mantermos a consciência de que a vida é algo que sempre vai além de nossas idéias sobre ela. A criativa liberdade de se conhecer aprisionado. Jamais serão melhores que Shakespeare Sob o risco de começar a virar piada forte, Daniel Piza acha que a lista do Todoprosa sobre o melhor romance brasileiro dos últimos 25 anos "não é uma lista que faça jus" a Machado de Assis, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. Parafraseando Jonathan Franzen, ao menos no Brasil, os críticos tem muito mais a provar para nós, leitores, do que os escritores. Enfim, muito inferior ao Paulo Francis. |
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