Além de organizar a dor, toda esta literatura do luto constitui, na verdade, um conjunto de lindas histórias de amor. São relatos da conjugalidade, de como duas pessoas fazem de uma opção entre tantas outras – viver junto com alguém – o movimento mais essencial de suas vidas. A dor do sobrevivente é terrível não apenas porque o priva do dia-a-dia compartilhado, mas porque o lança impiedosamente à solidão mais essencial. O casamento, escreve Joan Didion, “não é apenas tempo. Paradoxalmente, ele é também a negação do tempo. Durante quarenta anos, me via através dos olhos de John. Eu não envelheci. Neste ano, pela primeira vez desde os meus vinte e nove anos, eu me via através dos olhos dos outros”. Aí está, precisamente, o que se perde.
Paulo Roberto Pires quando quer destruir, sai de perto. Primoroso seu texto "A arte de perder" no No Mínimo de hoje, sobre as expressões da perda na literatura – um tema que produziu vários bons livros recentemente, começando pelo O ano do pensamento mágico da Joan Didion. Após de ler o texto inteiro, é inevitável a pergunta: aonde iríamos ler algo tão bom a não ser no No Mínimo?