Suzane
Com o alvoroço causado pelo caso Richthofen, é natural que uma série de observações seja feita. É mais natural ainda que essas observações sejam críticas e direcionadas à cobertura feita pela imprensa. A frase que mais ouvi nos últimos dias foi "por que diabos vocês, jornalistas, dão tanta atenção a um caso como esse, já que filhos matam pais todos os dias?". Por que diabos damos?
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Aquele quadro de focas do Caco Barcellos, o Profissão Repórter, fez um especial sobre casos muito semelhantes ao da Suzane, só que envolvendo pessoas pobres - o que não lhes garante publicidade alguma e, sequer, empenho da polícia. Hoje, depois de mais um dia imerso na cobertura do júri, consegui parar pra filosofar umas besteiras. Um delas é que o caso Richthofen chama tanta atenção da imprensa e, por conseqüência, das pessoas (ou vice e versa?), por que põe em xeque o conceito geral de felicidade. Na época do crime, Suzane era uma garota de shopping center, relativamente bonita, rica, moradora de um bairro bacana - feliz. Sob o conceito de felicidade atual, só a palavra rica já seria suficiente pra tornar a moça feliz.
Talvez até a palavra shopping.
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O espaço dedicado ao caso faz bem à audiência, mas parece ir além disso. Parace gritar `como pode uma pessoa feliz fazer o que fez Suzane, matar os pais a pauldas junto com dois caras, na cama, dormindo, de bruços?`. As contradições confundem. Se pudessemos produzir seres humanos previsíveis - e estamos quase lá - Suzane certamente faria parte das castas superiores; livre, realizada e feliz, como acreditou Aldous Huxley Por ironia, em vez da realização plena, hoje ela veste uma roupa cáqui (dedicada aos presos), exatamente a mesma cor dos uniformes usados pelos seres menos desenvolvidos em Admirável Mundo Novo.