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agosto 29, 2006

Como o comunismo pode destruir a América

Quer coisa mais comunista que um furacão? Que tal um furacão chamado Ernesto?
Se todos os anos a temporada de furacões do norte já torna regiões nos EUA interamente comunistas (todos dormem no mesmo abrigo, comem da mesma comida, compartilham das mesmas angústias e até, milionários e mendigos, têm assunto em comum) imagine o estrago psicológico que pode fazer um furacão chamado Ernesto - primeiro nome de Che Guevara -, que chega com potencial de destruição na América exatamente um ano depois da tragédia do Katrina e um dia após ter passado por Cuba. Êta ventinho emblemático esse.
Hoje, Bush andou por lá, com a imagem ainda arranhada pela pífia atuação no ano passado, quando só sobrevoou a área atingida. E o que é pior: o governo dos EUA ainda retém dinheiro que deveria ajudar a reerguer New Orleans. Já viram as fotos da cidade? Não é arquivo, não, essas fotos foram distribuídas pelas agências internacionais hoje. Não se fala de outro assunto.
Enquanto áreas de brancos e ricos (redundância?) já foram limpas e reconstruídas como se fossem a Disney, os bairros mais pobres próximos dos diques de contenção de água ainda parecem uma zona de guerra. New Orleans está 3 metros abaixo do nível do mar, e os tais diques - já fracos e obsoletos na época - ainda não foram totalmente reconstruídos. Quer dizer, se outro furacão atingir com força o Golfo do México, pode ser a pá de cal.
Por essas ironias da vida (e pela total incompetência do governo) é a primeira vez que um Ernesto tem reais chances de entrar na América. E destruí-la.

agosto 22, 2006

New Yorker do pampa

Uma das coisas que mais sinto falta em Porto Alegre é ler uma boa revista local. O que é estranho por que, apesar de formar e concentrar grande parte da imprensa nacional, o Rio Grande não tem uma tradição consolidada na área de revistas. Temos exemplos heróicos como a Amanhã (focada na elite empresarial) e a Aplauso (que infelizmente não abrange áreas como roteiro cultural, além de dar pouca atenção à undercultura). O resto, como diria Millôr Fernandes, é armazém de secos & molhados - publicação pra adolescente vazio, pra vibers ou pra peruas.

Não ter tradição nesse tipo de mídia impressa parece sina gaúcha. A RBS por exemplo, com dinheiro e toda a vitrine do mundo, já tentou emplacar a Red 32, a Eai?, a Revista Atlântida, e nada - nenhuma vingou. A saída poderia estar nas pequenas e independentes como a Type ou a Vinil, mas aí (o que sobra à RBS) faltou na ponta de baixo: grana. E ambas quebraram.

O legal mesmo seria uma iniciativa tipo o Coojornal, uma cooperativa de jornalistas, escritores, tradutores, críticos e doentes em geral pra fazer a New Yorker do pampa. Juntar reportagem, fotografia, tiras, crítica de arte e novos escritores em uma só revista é a cara da cidade. Infelizmente, tenho a impressão de que há pouca gente disposta a se aventurar numa dessas. Talvez por falta de grana, talvez por que achem que "o papel vai morrer", ou simplesmente por falta de visão geral da situação: a cidade clama por uma revista, o problema é encontrar quem se habilite.

agosto 18, 2006

PMDB comanda

Informações de bastidores já dão conta de que o PMDB deverá pedir cerca de OITO ministérios ao novo governo. Isso pelo poder político que o partido terá após a eleição de outubro - com chances reais de eleger o maior número de governadores do país e as maiores bancadas de deputados federais e senadores. Governistas estão eufóricos, aliviados por terem conseguido afastar a idéia da candidatura própria.

E segue o balie dos mesmos.

agosto 17, 2006

Tortura de esquimó

Nos últimos dias venho me dedicando à tortura de esquimó.

6h25 - Acordo antes do despertador; viro de lado, durmo
6h30 - Telefone desperta, aciono o soneca
6h39 - Desperta de novo, soneca nele
6h48 - Abro os olhos, me espreguiço, penso que posso dormir mais dois minutos
6h50 - Sento na cama, reclamo, levanto
6h55 - Não amarro o cadarço, não penteio o cabelo, saio de casa e deixo pra escovar os dentes na redação
7h05 - Chego no trabalho, invariavelmente, atrasado

agosto 15, 2006

Gauchismo velho sem porteira

Essa coisa de gauchismo já tá demais. Desde que vim morar no Rio Grande do Sul (há uns 6 anos) me deparei com esse jeito peculiar de gostar das coisas da terra simplesmente... por elas serem da terra. O slogan de um banco já diz tudo: "é melhor porque é daqui", como se gaúcho nascesse com um certificado de garantia amarrado no dedão. Até agora tentei suportar, mas a coisa foi tomando corpo e dominou por completo a principal rede de comunicação do Estado. Hoje, na RBS, pode cair o World Trade Center, mas a manchete sempre será "Gaúcho conta como escapou da tragédia". E se dominou os meios, certamente se instalou na mente da maioria.

Apesar de soar meio brega e recalcada, essa visão de mundo nada teria de errado enquanto os limites não fossem ultrapassados. Mas alguém precisou se arriscar do lado de lá do bom senso. Ouçam o Pedro Ernesto Denardin - um cantor gauchesco que faz bico na Rádio Gaúcha - narrando o segundo gol do Inter contra o São Paulo na semana passada. Está certo que a polêmica ganhou dimensões carnavalescas, mas essa narração, realmente, não dá pra engolir.

Meus agradecimentos ao Bob Fernandes.

agosto 12, 2006

Mudar dói

Aluguei uma casa com um amigo/irmão e estou definitivamente deixando meu apartamento. Mas mudar dói. A casa está lá, bonitinha, cercada, limpa, com algumas coisas essenciais que já compramos (geladeira, microondas, TV). Quer dizer, não falta nada, é só preciso encaixotar as coisas, limpar a poeira dos livros e CDs, arrumar as roupas, desmontar a cama e o pequeno armário que tenho no quarto. É pouca coisa, mas faz mais de duas semanas que me enrolo, levo coisas aos poucos, resisto. Tenho a sensação de que estou me mudando em pedaços, como quem se desmancha aos prantos. Por que mudar parece sempre o final de um relacionamento?

Olho pras paredes do apartamento e lembro quantas coisas fiz aqui, por tudo o que passei, quantos empregos tive e quantos projetos me consumiram sentados junto comigo nessa mesma sala, nessa cadeira quebrada que está acabando com as minhas costas. Essa sensação da vida em segundos, como um trailer de filme-Hollywood, acho que só sentimos quando estamos em perigo imediato, quando gozamos ou quando estamos saindo de algum lugar onde estivemos por muito tempo.

Até mesmo eu estar aqui, escrevendo esse post, serve pra me livrar por uns instantes dos machucados que cada livro, cada disco, cada camiseta, estátua, fone de ouvido e gravata irão me causar. Mas no fim eu sei que preciso andar, que doer mais um pouco é a única saída. Mudar, definitivamente, dói.

Nublar

Hoje amanheceu nublado
Pra amanhecer
basta nublar
e ser mais um dia no ar

Agora é meio-dia, e o sol
Pra ensolarar
basta solar
um calor imenso a invernar
esse verbo intenso
invertebrar

agosto 9, 2006

Internacional, afinal?

Hoje é o dia pro Inter. O jogo contra o São Paulo não representa somente uma final, ou talvez um título. Conquistar a Libertadores significa se livrar, depois de mais de 20 anos, da vergonha auto-imposta por não ter nenhuma taça sul-americana em sua galeria, enquanto o Grêmio ostenta duas no Olímpico. Hoje, o Inter pode dar o grande passo de sua história para se tornar, afinal, Internacional.

Há muitos anos se diz que a torcida do Inter é apaixonada, viciada, ensandecida, enquanto se relega à torcida gremista a pecha de apática, silenciosa, fria. Tenho a tese de que a torcida do Inter é tudo o que seu time gostaria de ser dentro de campo. Afinal, fibra, garra, coração - bolas - quem sempre demonstrou foi o Grêmio. O Apelido de Imortal Tricolor não é em vão. Enquanto a torcida colorada viu seu time morrer na praia nas duas últimas décadas, os torcedores gremistas puderam esnobar títulos. Talvez venha daí a desfaçatez com que os tricolores trataram seus times meramente medianos - mesmo que estes fossem, na maioria das vezes, acima da média e melhores que os do rival.

O tempo passou e acho que os gremistas caíram na real: não dá pra imitar o Inter e ficar 20 anos vivendo de taças empoeiradas. Tirando a Copa do Brasil de 2001, o Grêmio já marca dez anos sem um título que preste. Talvez por isso, a própria torcida tenha mudado. Hoje, quem vê os jogos do Grêmio sabe o que é um torcedor de verdade. Depois da Segundona, as arquibancadas do Tricolor ganharam vida novamente.

Veremos se hoje, enfim, os vermelhos farão valer a fama de sua torcida. Ou se, mais uma vez, se comportarão em campo como um clássico e inigualável time... do Internacional.

Sociedade da Terra Redonda

Acabo de ver que meu nome é citado no site Sociedade da Terra Redonda por causa de uma reportagem que escrevi há algum tempo. Que diabos é essa Sociedade? E como meu nome foi parar lá? Eu sequer acredito que a Terra seja redonda, ô pá!

Lendo os objetivos dessa sociedade até, vá lá, me identifiquei:
* Defender os direitos dos Ateístas na sociedade;
* Advogar pela total e completa separação entre religião e governo;
* Divulgar e promover o método científico e o pensamento crítico, as realizações e os avanços da ciência.

Mas é óbvio que a picaretagem corre solta.
Exijo sair.

agosto 8, 2006

Não estou em casa 2006

Devido ao grande número de posts (dois) sobre a Heloísa Helena, no qual digo que vou repetir eleições anteriores e não votar, resolvi lançar a campanha "Não estou em casa 2006". Se você está desgostoso, sem opção de candidato, simplesmente vá até uma seção fora de seu domicílio eleitoral e justifique. Esse é o verdadeiro voto nulo, capaz de anular o resultado de uma eleição. E não é preciso explicar por que você não está em casa. Além do mais, que eu saiba, não há restrição alguma no que se refere à distância - ou seja, se você é de Porto Alegre, pode justificar em Canoas, por exemplo (se eu estiver errado, manifestem-se).

agosto 7, 2006

Papo clínico

Eu: Porra, odeio a Ana Maria Braga e todas as marcas pras quais ela faz propaganda.
Ela: Mas por que?
Eu: Olha ali, coisa ridícula, "Carrefour, a marca que mexe com meu coração".
Ela: É verdade. A única marca que mexe com meu coração é o marca-passo.

Heloisa Helena vai bem no Rio. E?

Deu ontem, pesquisa JB/Sensus: Heloísa Helena está tecnicamente empatada com Alckmin no Rio de Janeiro. Na verdade, está dois pontos à frente, mas empata pela margem de erro. Sinceramente, não sei se isso é um ponto positivo. Não dá pra deixar de destacar a façanha, já que ela tem bem menos vitrine que o candidato do PSDB. Vale palmas. Mas, por outro lado, o eleitorado carioca é o menos qualificado do Brasil. Os caras já conseguiram eleger cada picareta que vou te contar. As urnas do Rio são tão errantes que os eleitores deveriam ser presos por reincidência no crime: foi sair o Garotinho que deram um jeito de colocar a mulher dele no Palácio. E não há nem comparação com alguns Estados do Norte ou Nordeste - lá pra cima, falta opção.

A meta da Heloísa agora é subir em Estados do Sul, Minas e São Paulo. O xadrez tá complicado, já que ela resolveu adotar um discurso só pra pobre, filão que o Lula já arrebanhou com sua coletânea de "vales" e "bolsas".

Por essas acho que esse ano, mais uma vez, vou anular meu voto. Se você estiver com ímpetos de fazer a mesma coisa, por favor, faça do jeito certo - simplesmente não vote, alegue que estava fora de seu domicílio eleitoral. Já tá mais do que explicado que apertar a tecla "Anular" é um tremendo engodo.

agosto 5, 2006

Fidel Castro está morto

Vocês já sabem? Fidel Castro está morto. É sério. Como acontece em qualquer país comunista que se preze, a imprensa de Cuba está nas mãos do Estado. Como a única fonte de informação sobre a saúde do ditador é o Granma - já que a ilha proibiu a entrada de jornalistas estrangeiros pra cobrir o fato - podemos afirmar que Fidel está morto, só que não tem ninguém lá pra nos contar.
Se o ditador (ainda) não está fisicamente morto, politicamente ele já bateu as botas. Boatos extra-oficiais dão conta de que Fidel teria uma câncer grave, o que tornaria sua volta ao poder impossível. Até o presidente Lula já saberia. No silêncio, a ilha prepara uma sucessão nada democrática - seu irmão Raúl deve assumir o poder de um país que, hoje, depende do petróleo que Hugo Chavez vende a preços módicos, revendido por Cuba com ágio para lucrar algum. Sem eleições, vão por água a baixo as esperanças dos milhares de cubanos auto-exilados pelo mundo. Cuba, que já foi um sonho, hoje não passa de uma piada.

agosto 3, 2006

Uma nação de malabaristas

Já repararam que esses projetos tipo Criança Esperança não ensinam ninguém a ler, estudar, trabalhar, dar um jeito na vida? Com a propaganda em massa em cima de mais um mega-evento, todo o santo dia os jornais da Globo dão uma matéria sobre os "tantos projetos apoiados pelo Criança Esperança no Brasil". Primeiro que duvido dos números. A emissora divulga 4.840 projetos desde 1986 (não, você não é um ET: eu também NUNCA vi nenhum deles). Mas vá lá, que sejam centenas, milhares, que sejam até milhões. O problema não está na quantidade, mas na qualidade.
Pelo que tenho visto na propaganda oficial, a única coisa que essa "geração esperança" está aprendendo a fazer é malabares, pular em cama elástica, pintar quadros, jogar futebol e dançar axé. Nada contra as atividades em si, afinal, sou artista e acho que isso é mais do que fundamental. Mas, convenhamos, se o objetivo da história toda é a inclusão social, o foco deveria estar na educação. Ora, de uma turma de 100 crianças, quantas realmente irão ganhar a vida chutando uma bola, melecando um pincel ou jogando alguns objetos pro alto? Três? Cinco? Dez, quando muito? O aproveitamento em uma sala de aula seria melhor. Se não sairiam de lá dez Einsteins, ao menos eles aprenderiam a ler, escrever, ter civilidade e respeito pelo ser humano. Não tenho a menor dúvida de que as letras fazem mais efeito do que todo o resto, nesses casos.

A azucrinação em torno do Criança Esperança está demais, é propaganda em excesso pra resultados meramente pífios. Sabe quantos projetos o Criança Esperança apóia, este ano, no Brasil? 64. Chega a ser ridículo.

agosto 2, 2006

Atropela-me, por favor

Fim de dia e eu saio de casa pra comprar uma televisão - coisa que acabei não fazendo por que tava muito frio pra bater perna por ai. Acabei tomando o rumo da casa da Aninha quando, mais um vez, me deparei com aqueles dois limpadores de vidros que ficam na esquina da Ipiranga com a Azenha. Os caras têm um cachorro dálmata enorme, encoleirado e bem cuidado que, desconfio, não deve ter vindo exatamente de um canil.
Ao contrário das vezes anteriores - quando fui recebido por um banal "tio me dá uma moeda" -, dessa vez um deles (alucinado) tava no meio da pista, segurando o cachorro e desafiando os carros. Praticamente um Highlander com uma placa na testa: 'Atropela-me, por favor'.


Avistei de longe, buzinei metros antes, o sinal fechou. Diminui a velocidade, buzinei de novo, nada. O cara não saiu da frente. Tirei um fino e tentei parar o mais avançado possível, pra evitar complicação. Quando parei o carro, propositalmente no meio da faixa de pedestres, ele chegou perto da porta do motorista e começou a me ameaçar. "Quer me atropelar, mané?" De cara fiz que não era comigo. Mas ele ali, no meu vidro, metendo a mão no carro, com o cachorro ao lado brincando de Niagra Falls, babando na lataria, palavrão atrás de palavrão. Eu até que tava conseguindo me manter alheio antes de ele soltar um "filho da puta" tão ameaçador que pediu resposta.
- Filho da puta é tu que ta aí no meio da rua, rapaz! Se liga, hein? Chamo a polícia e você perde o ponto!
Ele arregalou os olhos, e continuou me desaforando.


Odeio estourar com um cara desses, sobretudo por medo. Passo ali todos os dias, não posso dar bobeira. Mas ele me tirou do sério. O sinal abriu e eu gentilmente me despedi, mandando um glorioso dedo em riste. Respirei, tentei manter a calma, começei a cantar uma música que nem sei mais qual é. A raiva tava quase passando quando me lembrei que, poucos dias atrás, eu dei um Real pro mesmo cara. Memorizei a expressão "filho da puta" umas 50 vezes, como um mantra.


Se eu não fosse tão ateu, ia rezar pro dálmata comer a borracha de limpar vidros desse cara. Acreditar no sobrenatural ajudaria, às vezes.

Esmague um sanguessuga nas urnas

É impressionante como a imprensa deixa passar certas coisas.
Ontem, durante o programa Roda VIda, o deputado Antonio Carlos Biscaia, presidente da CPI das Sanguessugas, disse com todas as letras que os cerca de 80 parlamentares envolvidos na máfia não serão punidos. Ninguém deu.
A argumentação é simples: não haverá tempo. É impossível que, até as eleições de outubro, se vote a expulsão de tanta gente.
Biscaia deixou claro que a única cassação possível será nas urnas, o que faz muito sentido, já que a esmagadora maioria dos suspeitos são candidatos.
E aí, vai votar neles?