Mudar dói
Aluguei uma casa com um amigo/irmão e estou definitivamente deixando meu apartamento. Mas mudar dói. A casa está lá, bonitinha, cercada, limpa, com algumas coisas essenciais que já compramos (geladeira, microondas, TV). Quer dizer, não falta nada, é só preciso encaixotar as coisas, limpar a poeira dos livros e CDs, arrumar as roupas, desmontar a cama e o pequeno armário que tenho no quarto. É pouca coisa, mas faz mais de duas semanas que me enrolo, levo coisas aos poucos, resisto. Tenho a sensação de que estou me mudando em pedaços, como quem se desmancha aos prantos. Por que mudar parece sempre o final de um relacionamento?
Olho pras paredes do apartamento e lembro quantas coisas fiz aqui, por tudo o que passei, quantos empregos tive e quantos projetos me consumiram sentados junto comigo nessa mesma sala, nessa cadeira quebrada que está acabando com as minhas costas. Essa sensação da vida em segundos, como um trailer de filme-Hollywood, acho que só sentimos quando estamos em perigo imediato, quando gozamos ou quando estamos saindo de algum lugar onde estivemos por muito tempo.
Até mesmo eu estar aqui, escrevendo esse post, serve pra me livrar por uns instantes dos machucados que cada livro, cada disco, cada camiseta, estátua, fone de ouvido e gravata irão me causar. Mas no fim eu sei que preciso andar, que doer mais um pouco é a única saída. Mudar, definitivamente, dói.