" /> verdes fritos: outubro 2006 Archives

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outubro 26, 2006

Dança da chuva

Hoje foi mais uma madrugada daquelas, e mais um dia daqueles. Sempre que chove durante a noite eu sei: a chance de eu não me sentir bem no dia seguinte é alta. Pode ser que eu simplesmente acorde triste, ou pode ser que meu corpo resolva não funcionar. Hoje ele não funcionou.

Ando com problemas sérios de estômago e parece que isso tem uma ligação direta com a chuva. Quando era mais novo a chuva também estragava minhas manhãs de quinta-feira, nas memoráveis aulas de educação física. Um problema no joelho (até hoje não diagnosticado) me tirava de qualquer "clássico" do colégio. Era uma dor insuportável, eu olhava pro céu e blasfemava contra todos os zilhões de gotas que caiam sobre a terra. O sofrimento era ainda maior por que eu simplesmente adoro dias de chuva, manhãs cinzentas, noites de tempestade.

Quando criança, sempre me perguntava por que o homem do tempo da TV insistia que teríamos "tempo ruim" nos próximos dias. Era só a chuva, e chuva deveria ser tempo bom, fotossíntese, fertilidade e etc, pensava eu. Mesmo criança eu já fazia associações incomuns pra minha idade. "Momentos de chuva são sexuais, esse monte de pingos é o maior orgasmo do mundo!". Eu tinha uns 11 anos.

Fora o fato de eu não ser uma criança lá muito normal, ainda concordo com esse ponto de vista infanto-sexual. Esse é um dos problemas de só se pensar em praia e férias: a passagem do ano, o trabalho e os dias de inverno só são justificáveis por que teremos o próximo verão. Até mesmo as regiões mais nada a ver com essa cultura "moro num país tropical, num pa-tro-pi" (meu deus, alguém escreveu isso) são contaminadas. Em Santana do Livramento, distante ao menos MIL quilômetros de qualquer praia habitável, o que o cara mais quer é ir pra Tramandaí e ver umas bundas. Nada contra as bundas, mas por que esse culto ao verão?

Domingo teremos segundo turno e os blogs de política do país não cansam de destacar nosso mau-caratismo eleitoral. O problema é que essa mentalidade míope só reflete nas urnas o que vivemos, agimos e pensamos ao longo do ano. O que importa é o verão, o que interessa são meus dias de férias. Ninguém se preocupa em consertar o telhado pra curtir dias de chuva. A sensação que temos é que em janeiro e fevereiro não há governo, só protetor solar e caipirinha. O "tempo ruim" merece um pouco mais de nós, mesmo que a água faça nosso joelho doer ou o estômago pifar. Afinal, nem só de Jorge Ben Jor vive homem.


p.s. Esse é um daqueles posts confessionas que eu abomino em qualquer blog. Você não tem nada a ver com a minha vida, afinal. Acontece que recentemente eu li uma pesquisa sei lá onde que mostra que as pessoas se interessam mais por posts pessoais do que por "coisas sérias", de "caráter cultural relevante" ou que "interessem à nação". Portanto, quem não gostou bate palma e vai ler o Noblat, que eu só to fazendo o que todo mundo faz: aproveitando pra me dar bem.

outubro 22, 2006

Bom dia

A dificuldade de manter um blog atualizado não é diferente da de acordar e encarar um dia. Talvez mude a carga, talvez pareça que mude, mas esteja certo: a dificuldade de manter um blog atualizado é essencialmente a mesma da de abrir os olhos, caminhar, viver. Ela vem de longe, retorna, uma sensação familiar todos os dias, talvez a própria consiência.

A vontade de manter um blog atualizado é
(se não)
a da própria existência,

às vezes doce,
outras nem.

Se não for isso, não sei.
Estou morrendo.
Estou morrendo.
Estou morrendo
de sono.

outubro 14, 2006

Lições do mundo musical # 1

Publico aqui juntamente com Sir. Psychosexy uma coletânea de lições que o mundo musical nos oferece. As frases são retiradas de canções de grandes gênios de nossa música. Afinal, pop também é cultura.
Conto com a colaboração dos leitores - mandem idéias nos comments, por favor.


Sandy, lição de lógica
“O que é imortal... não morre no final”

Chorão (Charlie Brown Jr), mestre de educação moral e cívica
“Não sou como você, filhodaputa, viadinho”

Jorge Benjor, exemplo de sensibilidade
“Fico com ela (…) porque ela é gostosa”

Rogério Flausino, pragmatismo à flor da pele
"Pra que tanto telefonema, se o homem inventou o avião?"

Os Mutantes, lição de alfabetização
"Ela é minha menina, e eu sou o menino dela"

Caetano Veloso, macho
"Menino do Rio, calor que provoca arrepio, dragão tatuado no braço, calção, corpo aberto no espaço (...) adoro ver-te"

Mano Lima, regionalismos
"Se cera fosse crepe, se crepe fosse cetim. Se guampa fosse flor, minha cabeça era um jardim"

Dazaranha, regionalismos II
Nós, eu e você, caxixi não é xequerê"

outubro 12, 2006

Agradeça ao You Tube

A avalanche de entrevistas e reportagens sobre a venda do You Tube trouxe à tona uma discussão que este blog já havia abordado.

O fenômeno You Tube, assim como o Flickr ou o My Space, evidenciam uma das principais características dos dias de hoje: a vontade de transformar vidas normais em superexistências. Ao publicar vídeos, fotos e textos na rede, o cotidiano de um garoto de 15 anos não corre mais o risco de passar em branco. Ao expôr seus pequenos fragmentos de existência, ele pode se tornar de imediato o mais novo superstar do bairro - ou, ao menos, do colégio em que estuda. Sem graça mesmo é a vida de quem não tem computador no quarto. A brincadeira geral é o auto-retrato em frente ao espelho e a mensagem "antes de add deixa scrap" no Orkut, outra arma da promoção pessoal.

Assim como é capaz de supervalorizar vidas de todo o modo sem graça, o potencial de fagia da rede consegue transformar os astros em meros mortais, pecadores, feios, cheios de espinhas, bêbados, drogados, afetados, falíveis e nem tão legais assim. A quantidade de flagras postados na rede é cada vez maior e a sensação que tenho é que, num dia logo ali na esquina, todos os deuses descerão do Olimpo - ou nós é que subiremos lá pra comer uva com os pés na mesa de centro.

Vai ser lindo.

outubro 11, 2006

Perdendo na base

O irmão do Lula (um dos 14) abriu o voto: vai de Alckmin. Li a notícia hoje pela manhã em um jornal de Santos, não acreditei e pedi pro correspondente do Terra ir atrás do homem pra ver se a história batia. E bate.

O que impressiona é a sobriedade da família. Jachson Ignácio da Silva é pedreiro e sabe mais de política do que muito macaco velho por aí.

"É uma falcatrua atrás da outra. O PT me deixou envergonhado. Era a minha esperança, não tinha o direito de errar, como fizeram Delúbio, Zé Dirceu, Palocci. Quando esfria uma, aparece outra".

"O Brasil não é só Nordeste. Além disso, o Bolsa-Família é uma vergonha para qualquer governo. O povo não quer esmola, quer trabalho, casa para morar, escovar os dentes, e tudo isso. Não apenas arroz e feijão".

outubro 8, 2006

Eu também te amo

A vinheta de abertura do debate da Band é um dedo apertando um botão.
Um dedo médio.

Frase do dia

"É pelo DEDO que se conhece o gigante."

Alckmin, sobre Lula.
Isso foi um insulto ou um elogio?

Ainda não

É mentirosa a afirmação de que o São Paulo está com a mão na taça, assim como é uma piada a estatística apresentada hoje pela Sport TV. Segundo os dados, o caneco já é 77% do tricolor paulista. Se pesquisa boca-de-urna já erra (e o voto depende somente da pessoa) imaginem uma projeção dessas. Alguém combinou com os adversários do São Paulo?

Uma coisa que ninguém está falando é que o São Paulo tem pela frente dois jogos-chave. A estatística apresentada hoje estaria correta se o tricolor já tivesse enfrentado seus adversários diretos, Grêmio e Santos, o que ainda não aconteceu. E, pelo retrospecto desses adversários dentro de casa, serão duas derrotas anunciadas, ou uma derrota e um empate na melhor das hipóteses.

Primeiro, o tricolor paulista vai a Porto Alegre pegar o Grêmio, que não costuma perder em casa. Jogo de seis pontos e, se confirmado o favoritismo, o Grêmio avança três e segura o São Paulo. Depois, é a vez de um clássico paulista: o tricolor vai à baixada encarar o Santos que, em casa, é ainda mais imbatível do que o Grêmio. Se não me engano, no Campeonato Brasileiro deste ano o Santos venceu 11 partidas em casa e perdeu só uma ou duas. Ou seja, ao que tudo indica, mais uma derrota do São Paulo e mais um jogo de seis pontos, que, além de não vencer, o tricolor vê um adversário direto subir.

Se ambas as previsões se confirmarem, a diferença entre o São Paulo e o Santos, atual vice-líder, ficaria em apenas 1 ponto (é claro, se os jogos fossem na sequência). Um cenário assim não me parece tão definido.

Além do mais, há ainda dez rodadas pela frente, nada menos do que 30 pontos em disputa. E 30 pontos é muita coisa pra tanto otimismo.

outubro 4, 2006

Leite com melancia

As urnas não reelegeram os deputados Antônio Carlos Biscaia e Amir Lando, presidente e relator da CPI dos Sanguessugas, DISPARADO, a CPI que mais deu certo no governo Lula.

Vamos todos tomar um copo de leite e comer melancia pra homenagear a sabedoria popular.

Espetáculo

Tem momentos na vida em que a gente precisa se sentir um merda pra entender que as coisas tem uma importância muito maior do que o aqui e agora. E como jornalista é assim que me sinto agora, envergonhadamente um merda. A cada eleição, a teoria de que a imprensa é hoje um palco à serviço do 'Panis et Circencis' se confirma.

Não vejo em lugar nenhum da grande mídia a divulgação de eleitos que têm um projeto interessante em determinada área, ou de reeleitos que merecem ficar por mais quatro anos em Brasília pelos bons serviços prestados à nação. Se a farsa eleitoral não se faz evidente sob escândalos, com certeza mostra sua cara sob a forma de piada. Ocupam linhas e linhas, frames e frames, bits e bits de nossa imprensa o mais jovem deputado, a mais bela deputada, a candidata prostituta, a musa do mensalão, os cabelos coloridos, o zé mané, o cara da muleta, o vovô que usa luvas de boxe, o aposentado que levanta do caixão, o Clodovil. Tudo em busca da audiência. Patético, não fosse trágico: se passarão mais quatro anos sem que o povo saiba uma linha sobre o que esses caras pretendem fazer quando assumirem suas cadeiras.

Se a imprensa merece fortes aplausos por dar gigantescos espaços aos escândalos de corrupção, está faltando umas palmadas na hora de divulgar projetos.

Depois nós, 'homens de imprensa', culpamos o povo por não saber votar.
Vamos combinar que pouco ajudamos.

outubro 3, 2006

Frase do dia

"Não vou quebrar o septo nasal (sic) de ninguém, não vou dar bofetada em ninguém, eu sou calma".

Heloísa Helena, em plenário, dando um recado aos que pensam em pedir seu apoio no segundo turno.

outubro 1, 2006

Pequenas considerações sobre

Rigotto sorriu ao saber que perdera a eleição. Mais um turno de competição seria cansativo pra quem, desde o início, não queria novamente concorrer. Rigotto se esquivou do Rio Grande e tentou o Planalto. Cedo, mas talvez pra fazer nome e concorrer contra um provável Aécio Neves em 2010. O resultado foi que Rigotto pouco fez campanha. E a ironia é que na eleição passada ele disparou na reta final, arrancou da ponta de baixo pra vitória. Este ano, Rigotto caiu de primeiro pra terceiro em uma semana.

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Yeda trocou de marqueteiro às tamancadas, mudou o penteado, jogou mais maquiagem e luz na propaganda eleitoral, mostrou fôlego. É o Botox no segundo turno.

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Me parace que Olívio não passa pela segunda fase. Quem votará no PT além do próprio PT?

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Manoela vai pra Brasília com o voto do Orkut, do "e aí, beleza", da Redenção. Sorriso bonito, achei legal. Repete uma história parecida com a da Maria do Rosário.

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Mano Chances com 40 mil votos é deputado estadual e mostra que se eleger é viável. Quarenta mil votos equivalem a uma pequena cidade do interior, talvez duas. Fácil pra quem faz shows por todo o estado. Mano Changes é o Frank Zappa da chalaça.

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Simon se manteve, mas Rossetto mostrou que poderia chegar no Senado. Por pouco.

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Um fiasco as pesquisas de boca-de-urna.

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Quem é o Oscar?