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Dança da chuva

Hoje foi mais uma madrugada daquelas, e mais um dia daqueles. Sempre que chove durante a noite eu sei: a chance de eu não me sentir bem no dia seguinte é alta. Pode ser que eu simplesmente acorde triste, ou pode ser que meu corpo resolva não funcionar. Hoje ele não funcionou.

Ando com problemas sérios de estômago e parece que isso tem uma ligação direta com a chuva. Quando era mais novo a chuva também estragava minhas manhãs de quinta-feira, nas memoráveis aulas de educação física. Um problema no joelho (até hoje não diagnosticado) me tirava de qualquer "clássico" do colégio. Era uma dor insuportável, eu olhava pro céu e blasfemava contra todos os zilhões de gotas que caiam sobre a terra. O sofrimento era ainda maior por que eu simplesmente adoro dias de chuva, manhãs cinzentas, noites de tempestade.

Quando criança, sempre me perguntava por que o homem do tempo da TV insistia que teríamos "tempo ruim" nos próximos dias. Era só a chuva, e chuva deveria ser tempo bom, fotossíntese, fertilidade e etc, pensava eu. Mesmo criança eu já fazia associações incomuns pra minha idade. "Momentos de chuva são sexuais, esse monte de pingos é o maior orgasmo do mundo!". Eu tinha uns 11 anos.

Fora o fato de eu não ser uma criança lá muito normal, ainda concordo com esse ponto de vista infanto-sexual. Esse é um dos problemas de só se pensar em praia e férias: a passagem do ano, o trabalho e os dias de inverno só são justificáveis por que teremos o próximo verão. Até mesmo as regiões mais nada a ver com essa cultura "moro num país tropical, num pa-tro-pi" (meu deus, alguém escreveu isso) são contaminadas. Em Santana do Livramento, distante ao menos MIL quilômetros de qualquer praia habitável, o que o cara mais quer é ir pra Tramandaí e ver umas bundas. Nada contra as bundas, mas por que esse culto ao verão?

Domingo teremos segundo turno e os blogs de política do país não cansam de destacar nosso mau-caratismo eleitoral. O problema é que essa mentalidade míope só reflete nas urnas o que vivemos, agimos e pensamos ao longo do ano. O que importa é o verão, o que interessa são meus dias de férias. Ninguém se preocupa em consertar o telhado pra curtir dias de chuva. A sensação que temos é que em janeiro e fevereiro não há governo, só protetor solar e caipirinha. O "tempo ruim" merece um pouco mais de nós, mesmo que a água faça nosso joelho doer ou o estômago pifar. Afinal, nem só de Jorge Ben Jor vive homem.


p.s. Esse é um daqueles posts confessionas que eu abomino em qualquer blog. Você não tem nada a ver com a minha vida, afinal. Acontece que recentemente eu li uma pesquisa sei lá onde que mostra que as pessoas se interessam mais por posts pessoais do que por "coisas sérias", de "caráter cultural relevante" ou que "interessem à nação". Portanto, quem não gostou bate palma e vai ler o Noblat, que eu só to fazendo o que todo mundo faz: aproveitando pra me dar bem.

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