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Podem comprar a vela

O futebol vai acabar. Podem comprar a vela, encomendem a coroa e o caixão, está visto que o futebol, como o conhecemos, vai acabar. Aquela cabeçada do Zidane na Copa foi o clique que faltava pra decretar a derrocada do ludopédio que tanto nos encantou no último século. Choro pelo fim do futebol.

O que me surpreendeu na última semana foi uma declaração do próprio Zidane (o meia da década) dizendo que a camisa 10 vai acabar. “Estará extinta em alguns anos”, decretou. Zidane tem razão, na medida em que o próprio drible foi extinto na mais recente Copa do Mundo. Assistimos na competição, a exemplo dos campeonatos nacionais em todo o mundo, a um futebol burocrático, de puro toque de bola, arremates de fora da área e cruzamentos em profusão, ávidos por uma cabeça salvadora. A exceção, é claro, foi a exibição de luxo do mestre Zidane contra o Brasil, único lampejo de bom futebol nos últimos anos.

No futebol inglês, milionário, cheio de estrelas e certamente o mais badalado do momento, entre os 100 gols mais bonitos de 2006, 100 são chutes de fora da área. E não falo do futebol inglês jogado por ingleses, ávidos por uns tendões expostos. Falo de um futebol que compra metade dos craques do mundo todo a cada temporada.

Como o fim do mundo deve começar pelos países periféricos, o Campeonato Brasileiro nos dá as pistas evidentes da tragédia anunciada. Zé Roberto era, de longe, o melhor jogador do país. Mas Zé Roberto, comparado ao Riquelme, não cruza a linha da mediocridade. E o Riquelme só estava no Boca, justamente, por que amargava o banco no Villarreal da Espanha, depois de uma passagem fracassada pelo Barcelona.

Como se a extinção do meio de campo já não bastasse, dois exemplos no ataque comprovam a tese do fim do futebol. Dodô, com 33 anos, é o melhor atacante do país – dando banho de eficiência em qualquer garoto prodígio como Alexandre Pato. E Romário, com 41 (!), não treina, entra em campo quando quer e faz chover na área, ante zaguerões de 18 anos cheios de leite, mas com pouca bola no pé.

A pobreza do futebol dos nossos dias provoca uma aberração interessante entre os torcedores. Hoje, um jovem de 20 anos já é saudosista dos “bons e velhos tempos” de Raí no São Paulo, Jardel no Grêmio, Rivaldo no Palmeiras... times montados nos seculares anos 90.

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