God save the hype
Tristeza e morte sempre foram um good karma pros negócios nas artes. Van Gogh viveu marginalizado e visto como mau pintor por carregar nas tintas. Acometido de uma doença mental grave, só passou a render alguns tostões uma década depois de morto. Van Gogh viveu e partiu triste - suas últimas palavras ao irmão Théo foram "a tristeza durará para sempre" - mas seus agentes enriqueceram depois que ele se foi.
Histórias como a de Van Gogh são de cortar o coração, tanto pelo que teve em vida quanto pelo que lhe é relegado na eternidade. Como se não bastasse ter morrido pobre e louco, ele ainda tem que aturar adjetivos babões na legenda de suas pinturas. Pra quem colecionou meia dúzia de elogios em vida, ser chamado de gênio depois de morto é maledicência.
Espécie de Van Gogh sixtie, Nick Drake foi o maior amaldiçoado com a fama post mortem do século 20. Instrumentista versátil (aprendeu a tocar piano com a mãe - pianista, violoncelista, cantora e compositora -, além de clarinete, sax alto e violão no colégio), letrista simples e lancinante, compositor sensível de melodias tristes e belas, Drake não conseguiu ser ouvido em vida. Seus três discos foram um fracasso nas lojas, também, por que ele detestava fazer shows, grande peça de divulgação da época.
Depressivo, soturno e cabisbaixo, buscou incessante reconhecimento. No auge da depressão, ligava pra estranhos e perguntava se conheciam alguém chamado Nick Drake. Por ordens médicas, passou semanas em um hospital psiquiátrico. Depois da alta decidiu largar a música e tentar arranjar um emprego formal. Como não sabia fazer nada além da arte, desistiu, e passou o resto de seus dias dirigindo pela Europa.
A história foi ainda mais cruel com Nick Drake do que com Van Gogh. Morto em 74 (por overdose de anti-depressivos, rodeado de discos e atravessado na cama), só teve seu talento reconhecido a partir de coletâneas lançadas nos anos 90. Erro de avaliação pelo qual o hype jamais será perdoado.
Don't you have a word to show what may be done
Have you never heard a way to find the sun
Tell me all that you may know
Show me what you have to show
Won't you come and say
If you know the way to blue?
Way to Blue
Bryter layter (1970)
Official Website (em inglês)