Desenho animado
Toda vez que venho pra Santa Catarina me convenço mais de que esse estado não deveria ter telejornal. Passei 5 madrugadas acordado pra terminar de ler a biografia do Roberto Carlos e, bicho, meu dia começava pior depois de ver o Bom Dia Santa Catarina, mora? O programa é basicamente uma versão piorada do Bom Dia Rio Grande, passa na mesma RBS com o agravo de começar mais cedo, ou seja, com mais tempo pra se ter nada o que dizer. Fiquei constrangido só em assistir ao jornal nessas manhãs, basicamente uma revista fria de acontecimentos desimportantes que não fariam a menor diferença na minha vida.
As duas apresentadoras (como quase toda mulher pouco confiante em ambiente de trabalho) parecem competir o tempo todo entre si. Cada uma quer parecer mais interessante que a outra, quer mais espaço que a outra, quer ser a mais sexy eyes, o que chega a ser patético. Depois das notícias que talvez realmente importem (um pouco de política e polícia, fechando com comentário da Ana Amélia Lemos com uma cara terrível de acabei de acordar), começa uma desfile de bobagens absolutas travestidas de notícias importantes.
Na terça-feira, a entrevista mais longa do jornal foi com uma senhôra que cultivava flores. "E do que elas precisam?", perguntou o repórter. "Água e sol, basicamente", respondeu a animada florista. "É, o sol é sempre importante", fechou o genial colega de profissão, com aquele RBS smile no rosto.
No dia seguinte chamaram um médico alergista pra bater aquele papo (flores, alergias, sacou a primavera no ar?). "Essa época é terrível pras alergias, não?", perguntou a apresentadora. (Mentalizei pra que o médico respondesse algo do tipo "não, pras alergias é uma época maravilhosa, ruim é pros alérgicos", mas ele foi um pouco mais delicado.) "É, verdade", e emudeceu. "Então, como você nota que essa época é ruim pras alergias? É pelo aumento de pacientes?" (Jesus.) "Olha, fora eu trabalhar a 35 anos com isso, é claro, o volume de pacientes aumenta". Ele estava ficando visivelmente constrangido e só lembro de não ter me sentido tão só no mundo antes de zappear outros canais.
Depois do almoço me preparei pra ver novamente o telejornalismo barrigaverdiano em ação, dessa vez com a parte do Jornal do Almoço que é produzido em Chapecó. Por sorte os jornalista do oeste tem um tempo curto de trabalho, o que restringe a quantidade de desassuntos. Teve um dia, sei lá, acho que quinta, que a notícia mais importante parecia ter sido o atropelamento de um xóvem por uma motocicleta. Não consegui prestar atenção em mais nada depois que notei que a apresentadora insistia em colocar a letra H em toda palavra possível, naquele estilo rádio AM anos 50. "Jóhvem é atropeláhdo por motocicléhta em Chapecó. Chapecoense apresehnta refóhços na táhde de hoje", e assim, sucessivamente. Cada frase me fazia rir mais e mais, o que comprometeu a qualidade de minha análise profissional.
Pensei em pegar papel e caneta pra criticar com propriedade o jornal das 19h, mas resolvi comer um xis no Serginho em vez de ter outra indigestão em frente a TV.
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Vim pra cá fazer exames médicos por achar que teria que fazer duas cirurgias importantes pra minha qualidade de vida voltar à infância. A boa notícia é que terei que entrar pra faca apenas uma vez. Tenho certeza de que os apresentadores da RBS SC estarão torcendo por mim.
Boa Tahde.