Doce
Depois de duas semanas brigando com minha conexão wireless consegui finalmente baixar o novo disco do Radiohead via computador do Luciano. Impressionante como a banda continua íntegra e fodástica. Ouvi o disco apenas três vezes e já tenho milhões de opiniões sobre tudo, guitarra, vozes, efeitos, bateria eletrônica, cordas, talvez por estar tão envolvido com a produção da Super Homem Plus (Demotape em monocanal aqui).
Pego cada detalhe da captação dos instrumentos, fico imaginando em que sala aquilo foi gravado, em que contexto, como foi escolhido o timbre, quem decidiu se o instrumento ficaria na frente ou atrás durante a mixagem, essas pequenas coisas técnicas e trabalhosas que sempre me fascinam. Nos últimos meses minha cabeça mais parece uma mesa de áudio operando o Sonar, e descobri que sou totalmente maluco por produção musical. Amo trabalhos solitários de qualquer natureza (empresas, não leiam isso), mas esse em especial está me deixando em êxtase por usar como matéria-prima a música que tanto amo.
Sempre que entrei em estúdio pra gravar alguma coisa me posicionei como músico. Isso ajudava a me concentrar no que eu esperava de mim mesmo durante o processo, mas me cegava pra outras coisas tão importantes quanto executar bem a música. Lembro que da última vez que gravei levei uma pilha de CDs (uns 10) pro produtor escutar as baterias - aquelas que eu queria, era daquele jeito que esperava ouvir meu próprio instrumentos no fim de tudo. Se alguém fizer isso comigo hoje, sério, mato, simplesmente por que não tem como reproduzir determinados timbres em casa.
Apesar de todo o avanço tecnológico (o que me permite ter um estúdio gastando, quando muito, uns 5 mangos) a coisa ainda não é assim Alice no País das Maravilhas. O que se faz lá em Nova York, na Califórnia ou na Inglaterra em estúdios consagrados ainda é coisa de nível A+++ por causa de pequenos detalhes (equipamentos e boas salas, sobretudo). Mesmo que tu use samplers - sons captados em estúdios profissionais e que estão dando sopa na internet - ainda é difícil chegar na qualidade radiofônica ideal. Porém (e tudo tem um porém), apesar de não ser contra montar algum instrumento em vez de gravá-lo, acho que um disco artesanal gravado de próprio braço é sempre mais sincero do que apenas enfileirar samplers.
(Já baixou o disco? O que ta achando?)
A cada dia que passo no estúdio me convenço mais de que CD de banda grande é a maior merda produzida no mundo, com exceções como o Radiohead aí. Um disco do Jota Quest, por exemplo, é pobre em detalhes harmônicos e melódicos que fariam toda a diferença. A banda poderia até soar à lá Motown, mas com a quantidade absurda de compressores que se usa e com a eliminação de muitas freqüências importantes a coisa toda degringola pra som tipo jingle de margarina. No fim, me sinto o cara mais feliz do mundo por poder gravar em casa enquanto trabalho um tanto e faço companhia pro meu cachorro.