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setembro 27, 2007

Desenho animado

Toda vez que venho pra Santa Catarina me convenço mais de que esse estado não deveria ter telejornal. Passei 5 madrugadas acordado pra terminar de ler a biografia do Roberto Carlos e, bicho, meu dia começava pior depois de ver o Bom Dia Santa Catarina, mora? O programa é basicamente uma versão piorada do Bom Dia Rio Grande, passa na mesma RBS com o agravo de começar mais cedo, ou seja, com mais tempo pra se ter nada o que dizer. Fiquei constrangido só em assistir ao jornal nessas manhãs, basicamente uma revista fria de acontecimentos desimportantes que não fariam a menor diferença na minha vida.

As duas apresentadoras (como quase toda mulher pouco confiante em ambiente de trabalho) parecem competir o tempo todo entre si. Cada uma quer parecer mais interessante que a outra, quer mais espaço que a outra, quer ser a mais sexy eyes, o que chega a ser patético. Depois das notícias que talvez realmente importem (um pouco de política e polícia, fechando com comentário da Ana Amélia Lemos com uma cara terrível de acabei de acordar), começa uma desfile de bobagens absolutas travestidas de notícias importantes.

Na terça-feira, a entrevista mais longa do jornal foi com uma senhôra que cultivava flores. "E do que elas precisam?", perguntou o repórter. "Água e sol, basicamente", respondeu a animada florista. "É, o sol é sempre importante", fechou o genial colega de profissão, com aquele RBS smile no rosto.

No dia seguinte chamaram um médico alergista pra bater aquele papo (flores, alergias, sacou a primavera no ar?). "Essa época é terrível pras alergias, não?", perguntou a apresentadora. (Mentalizei pra que o médico respondesse algo do tipo "não, pras alergias é uma época maravilhosa, ruim é pros alérgicos", mas ele foi um pouco mais delicado.) "É, verdade", e emudeceu. "Então, como você nota que essa época é ruim pras alergias? É pelo aumento de pacientes?" (Jesus.) "Olha, fora eu trabalhar a 35 anos com isso, é claro, o volume de pacientes aumenta". Ele estava ficando visivelmente constrangido e só lembro de não ter me sentido tão só no mundo antes de zappear outros canais.

Depois do almoço me preparei pra ver novamente o telejornalismo barrigaverdiano em ação, dessa vez com a parte do Jornal do Almoço que é produzido em Chapecó. Por sorte os jornalista do oeste tem um tempo curto de trabalho, o que restringe a quantidade de desassuntos. Teve um dia, sei lá, acho que quinta, que a notícia mais importante parecia ter sido o atropelamento de um xóvem por uma motocicleta. Não consegui prestar atenção em mais nada depois que notei que a apresentadora insistia em colocar a letra H em toda palavra possível, naquele estilo rádio AM anos 50. "Jóhvem é atropeláhdo por motocicléhta em Chapecó. Chapecoense apresehnta refóhços na táhde de hoje", e assim, sucessivamente. Cada frase me fazia rir mais e mais, o que comprometeu a qualidade de minha análise profissional.

Pensei em pegar papel e caneta pra criticar com propriedade o jornal das 19h, mas resolvi comer um xis no Serginho em vez de ter outra indigestão em frente a TV.

***

Vim pra cá fazer exames médicos por achar que teria que fazer duas cirurgias importantes pra minha qualidade de vida voltar à infância. A boa notícia é que terei que entrar pra faca apenas uma vez. Tenho certeza de que os apresentadores da RBS SC estarão torcendo por mim.

Boa Tahde.

agosto 8, 2007

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julho 31, 2007

beijos tchau

O melhor blog de crítica de arte do mundo foi criado hoje.
Verve destruidora, agitação alucinógena, neurônios à prova, textos bélicos e lucidez desconcertante. Não quero mais ver a luz do sol depois de Buarque, vou me trancar no quarto e, abraçado ao notebook, chorar por jamais ter nascido verdadeiramente.

Verdes Fritos corre o risco de fechar. Não há mais sentido escrever aqui.
Eu não quero mais comer Insanus, eu quero me despedaçar em um açougue por Buarque.

beijos tchau.

julho 20, 2007

Ops!

O Terra e O Globo online mataram o senador Antônio Carlos Magalhães.

Por volta das 2h50 da madrugada, a manchete do Terra era "Morre Antônio Carlos Magalhães". Mal enviei a nota pra lista de discussão do Insanus, voltei pra capa do portal e... xazaaam! A notícia havia desaparecido e o link sido expirado. Poucos minutos depois o link voltou a funcionar com o título "Estado de saúde ACM é gravíssimo, diz médico", assim mesmo, sem o 'de' antes de ACM.

Entrei no MSN pra falar com o Rodrigo.
- O Terra matou o ACM, mas já o ressuscitou (ironic mode on).
- O Globo também.

acm-e-renan-web.jpg
"Internet me dá um sono..."


Minha sugestão de errata é:
"Diferente do que foi publicado pelo portal, o senador da república Antônio Carlos Magalhães não morreu. Foi quase."

julho 17, 2007

Ópio do povo

Além do financiamento de países que querem ver os EUA no chinelo, o Talibã se mantém vivo graças a renda das plantações de papoula no Afeganistão. O ópio continua sendo uma droga popular, principalmente no Oriente, o que torna a renovação da Al Qaeda cada vez mais evidente e preocupante pra Casa Branca.

Destruir essas plantações é talvez a maior meta dos EUA no país de Bin Laden.

Esse ensaio fotográfico feito pra revista New Yorker mostra a determinação da facção em defender seus rendimentos. As fotos foram tiradas durante uma emboscada em um campo de papoula.

As forças oficias foram postas a correr.

julho 9, 2007

Antinotícia

Impressionante como as coisas mudam. Até o ano passado, o espaço aéreo brasileiro era considerado um dos mais pontuais e seguros do mundo.
Hoje, uma segunda-feira nos aeroportos vira chamada de capa no Uol... pela calmaria.

agosto 22, 2006

New Yorker do pampa

Uma das coisas que mais sinto falta em Porto Alegre é ler uma boa revista local. O que é estranho por que, apesar de formar e concentrar grande parte da imprensa nacional, o Rio Grande não tem uma tradição consolidada na área de revistas. Temos exemplos heróicos como a Amanhã (focada na elite empresarial) e a Aplauso (que infelizmente não abrange áreas como roteiro cultural, além de dar pouca atenção à undercultura). O resto, como diria Millôr Fernandes, é armazém de secos & molhados - publicação pra adolescente vazio, pra vibers ou pra peruas.

Não ter tradição nesse tipo de mídia impressa parece sina gaúcha. A RBS por exemplo, com dinheiro e toda a vitrine do mundo, já tentou emplacar a Red 32, a Eai?, a Revista Atlântida, e nada - nenhuma vingou. A saída poderia estar nas pequenas e independentes como a Type ou a Vinil, mas aí (o que sobra à RBS) faltou na ponta de baixo: grana. E ambas quebraram.

O legal mesmo seria uma iniciativa tipo o Coojornal, uma cooperativa de jornalistas, escritores, tradutores, críticos e doentes em geral pra fazer a New Yorker do pampa. Juntar reportagem, fotografia, tiras, crítica de arte e novos escritores em uma só revista é a cara da cidade. Infelizmente, tenho a impressão de que há pouca gente disposta a se aventurar numa dessas. Talvez por falta de grana, talvez por que achem que "o papel vai morrer", ou simplesmente por falta de visão geral da situação: a cidade clama por uma revista, o problema é encontrar quem se habilite.

agosto 2, 2006

Esmague um sanguessuga nas urnas

É impressionante como a imprensa deixa passar certas coisas.
Ontem, durante o programa Roda VIda, o deputado Antonio Carlos Biscaia, presidente da CPI das Sanguessugas, disse com todas as letras que os cerca de 80 parlamentares envolvidos na máfia não serão punidos. Ninguém deu.
A argumentação é simples: não haverá tempo. É impossível que, até as eleições de outubro, se vote a expulsão de tanta gente.
Biscaia deixou claro que a única cassação possível será nas urnas, o que faz muito sentido, já que a esmagadora maioria dos suspeitos são candidatos.
E aí, vai votar neles?

julho 18, 2006

Suzane

Com o alvoroço causado pelo caso Richthofen, é natural que uma série de observações seja feita. É mais natural ainda que essas observações sejam críticas e direcionadas à cobertura feita pela imprensa. A frase que mais ouvi nos últimos dias foi "por que diabos vocês, jornalistas, dão tanta atenção a um caso como esse, já que filhos matam pais todos os dias?". Por que diabos damos?

* * *

Aquele quadro de focas do Caco Barcellos, o Profissão Repórter, fez um especial sobre casos muito semelhantes ao da Suzane, só que envolvendo pessoas pobres - o que não lhes garante publicidade alguma e, sequer, empenho da polícia. Hoje, depois de mais um dia imerso na cobertura do júri, consegui parar pra filosofar umas besteiras. Um delas é que o caso Richthofen chama tanta atenção da imprensa e, por conseqüência, das pessoas (ou vice e versa?), por que põe em xeque o conceito geral de felicidade. Na época do crime, Suzane era uma garota de shopping center, relativamente bonita, rica, moradora de um bairro bacana - feliz. Sob o conceito de felicidade atual, só a palavra rica já seria suficiente pra tornar a moça feliz.
Talvez até a palavra shopping.

* * *

O espaço dedicado ao caso faz bem à audiência, mas parece ir além disso. Parace gritar `como pode uma pessoa feliz fazer o que fez Suzane, matar os pais a pauldas junto com dois caras, na cama, dormindo, de bruços?`. As contradições confundem. Se pudessemos produzir seres humanos previsíveis - e estamos quase lá - Suzane certamente faria parte das castas superiores; livre, realizada e feliz, como acreditou Aldous Huxley Por ironia, em vez da realização plena, hoje ela veste uma roupa cáqui (dedicada aos presos), exatamente a mesma cor dos uniformes usados pelos seres menos desenvolvidos em Admirável Mundo Novo.

julho 16, 2006

O Diarinho

Um das coisas mais surreais da internet brasileira é o jornal Diarinho.
As manchetes são sensacionais:

"Figurão acusa Marieta de fraude na grana do SUS"
"Câmara aprova lei para melar a vida da primeira-dama"
"Malandros assaltam farmácia e se ferram"
(e a melhor de todas)
"Aprovados no concurso público tão chupando o dedo"

Diversão garantida.