Claramente o Insanus não funciona. Novamente, haverá uma "receita" dependendo do uso que queres fazer destes blogs. O Insanus é uma rede de amigos, funciona porque nos conhecemos do dia-a-dia e porque tem alguém pra segurar as pontas e organizar o servidor todo o mês. Não funcionaria como qualquer outra coisa.
O Tiago Dória começou a publicar algumas entrevistas sobre a BLOGOSFERA brasileira. Como fiel representante local, estou lá, arruinando tudo [leia]. Aproveite e veja também uma entrevista anterior, no blog do seminário de tecnologia e comunicação da Fabico, onde digo que o insanus irá acabar dentro de dois meses [leia também].
Para quem não lê a VOID, uma bom música sueca e a mini resenha que escrevi pra edição #20 da revista:
I'm From Barcelona
Let Me Introduce My Friends [Dolores, 2006]
O indie-pop divertido que surgiu como revelação no Festival da Primavera, em Barcelona, começa a ganhar repercussão internacional com o lançamento de seu primeiro álbum. Mas ao contrário do que diz o nome, a banda liderada por Emanuel Lundgren vem de uma pequena cidade no sul da Suécia e precisa ocupar todo o espaço do palco com seus 29 integrantes e os mais variados instrumentos. Das sonoras guitarras de "Treehouse" à graça de "Collection of Stamps", sem dúvida um disco que vai te fazer sorrir.
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Recomendo começar por "Oversleeping" e "Treehouse" e depois passar pras ultra-indie-pop "We're From Barcelona" e "Collection of Stamps".
Eis que entreguei minha monografia no início da semana passada. Um estudo sobre o Google Earth como ferramenta de escrita virtual sobre a cidade, ou 83 páginas de pura emoção, espiraladas e em três vias – pois é, nada mais daquelas bonitas capas de couro e o título cunhado em letras douradas. Aos poucos a Fabico perde sua aura.
Passei os últimos meses nutrindo bastante carinho pelo tema. Não o Google Earth em si, mas a idéia que está por trás da ferramenta: o entrecruzamento de duas esferas de espaço que conduz a uma cidade que, ao fim, é um híbrido de redes e de lugares físicos. Enquanto este é um conceito que tem sido bastante apropriado por projetos de arte contemporânea, me pareceu necessário observar um uso ampliado como o do GE antes de especular a respeito do NOVO SUJEITO DIGITAL. Ha.
RESUMO: Este trabalho propõe-se a estudar o aplicativo Google Earth como uma forma de escrita colaborativa sobre o urbano. Para isso, entende-se a cidade contemporânea como um espaço híbrido conectado a múltiplas virtualidades que possibilitam a integração entre os lugares reais e as redes telemáticas que caracterizam uma Sociedade em Rede. Com base na observação de dados coletados da Google Earth Community sobre a cidade de Toronto, no Canadá, este trabalho propõe uma nova tipologia para a análise do conteúdo publicado no aplicativo. Revela também duas tendências principais, de espelho e de narrativa, no uso da Google Earth Community de modo a aumentar o espaço físico e reforçar identidades comunitárias e locais na rede mundial de computadores.
Para quem se interessa pelo tema, colocarei o pdf por aqui depois da defesa. Será no dia 5 de dezembro, terça-feira, às 14h, possivelmente na sala 406 da Fabico. Sintam-se à vontade pra aparecer e pagar uma cerveja depois. Ou cinco.
A agência de notícias Reuters recentemente abriu um escritório dentro do jogo SecondLife, mundo virtual que já conta com mais de 1 milhão de habitantes e uma economia que movimenta 500 mil dólares diários. Conversei com Adam Pasick, jornalista de mídia e tecnologia que está em Londres e será o correspondente da agência no SL sob o avatar de Adam Reuters.
O que a Reuters irá cobrir no Second Life? Vais participar de eventos virtuais ou o foco será as repercussões dessa virtualidade na vida real?
Como deves saber, estou concentrando em matérias de economia e negócios. E estou escrevendo para leitores que usam o SL, apesar que algumas matérias poderão ter um apelo mais geral.
Então não veremos Adam Reuters segurando uma câmera na frente de um palco virtual?
Não, provavelmente não.
Fazer jornalismo no SL é mais sutil que isso?
O trabalho de reportagem no SL é surprendentemente muito semelhante ao trabalho de reportagem no mundo real. Isto é, depois que tu passar, ou talvez abraçar, a estranheza disso tudo.
Quantas horas por dias estás no SL?
Umas 4.
O SL te coloca mais perto do usuário de tecnologia?
Sim. Uma das razões pelas quais estamos aqui é para estar exposto a um novo público, que é jovem e ligado às novas tecnologias.
Mesmo assim tu escreves sobre negócios. A medida que o SL expandir, achas que veremos uma cobertura que também se expande para os aspectos sociais da vida virtual?
Já existe muita cobertura boa. Veja New World Notes, 3pointD, The Metaverse Messenger e SL Business. O fato de que esses não são grupos de mídia do "mundo real" significa muito pouco.
Como que a cobertura do SL se difere do jornalismo de tecnologia tradicional?
É diferente pois tudo relacionado à economia do SL está pelos ares. Não há leis, poucos mercados, mas muita gente querendo fazer dinheiro. Mais ou menos como o Velho Oeste. Mas a forma de reportagem continua a mesma – encontre pessoas interessantes/influentes, converse com elas e corra atás das idéias.
Falastes de uma estranheza na reportagem virtual. Qual a grande dificuldade para o jornalismo no SL?
A coisa mais difícil como um repórter é o anonimato dos avatares – torna as pessoas menos confiáveis. Então sempre que possível procuro incluir nomes verdadeiros também.
Mas este não é justamente o atrativo do SL? As pessoas estão dispostas a revelar suas identidades?
Este é um dos atrativos do SL. E nem todo mundo está disposto a compartilhar suas informações da vida real, o que é um direito delas.
Anotem aí, estou escrevendo um blog novo:
Isso não é o fim do Vertigo, já que são dois espaços com propostas diferentes, mas esperem atualizações mais constantes do lado de lá. A idéia é focar os posts em tecnologia, arte contemporânea e suas conexões com o espaço urbano. Talvez alguma divagação sobre como somos todos ciborgues. Diversão garantida.
Wax Paper Things é um pouco blog de pesquisa, um pouco um lugar pra desovar todas as coisas que ando lendo na rede. Ainda estou fazendo ajustes no template e na própria idéia de blog, então entrem e deixem seus comentários ou sugestões por lá.
O primeiro dia de fevereiro de 2004 foi um dia quente, para o inverno do norte ao menos. Mas também foi um domingo, o que necessariamente transpõe essa pequena narrativa para o próximo dia. O segundo dia de fevereiro de 2004 não foi tão quente, mas justas razões do calendário escolar nos fizeram falar sobre este e não o anterior.
Segunda-feira, nove da manhã, e Howard Kettler, um jovem de 13 anos de idade, entregava seu trabalho final para a aula de história na pacata cidade de Shelby, Carolina do Norte. De pé, diante da professora, balbuciava incompreensível enquanto era reprimido por sua má escolha de fontes. Deve ser porque recém haviam cantado o hino, e mal.
"Uma carta pode ser apenas um mensageiro comum, ou ela pode ser o courier que radia dignidade, prestígio e estabilidade," protestou o aluno àquela magrinha de óculos triangulares que exigia Times New Roman 14. Não era sua a frase, obviamente, mas gostara tanto daquele ímpeto conservador que precisava aproveitar a oportunidade.
"O seu trabalho sobre a guerra de secessão não pode..." Aquela magrinha de óculos triangulares tinha um jeito de pronunciar secessão que fazia seus lábios incharem. Se-ces-são. Isso arruinou qualquer discussão futura sobre o assunto.
Foi correndo pra casa e largou a vida de republicano. Descobriu o modernismo de Frutiger, entrou para o maravilhoso mundo encantado das fontes alongadas e abstraiu as serifas de sua vida. Passou o resto da juventude tentando disseminar a Univers pelos arredores do bairro.
Cartazes vendendo máquinas de lavar e oferecendo serviços de babá, desses afixados com grampeador e picotados na base. Até porque a Courier ficava um lixo a 75º.
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Exercícios literários em nó cego. O pdf completo e mais informações sobre a publicação ali no Overmundo.
(1) Pavol Orságh Hviezdoslav (1849-1921). O pai da poesia eslovaca, morou na região de Orava trabalhando como oficial de justiça até ser demitido.
(2) Jan Zizka (morto em 1424). Brilhante líder militar cego dos Tarboritas, a facção radical dos Hussitas.
(3) Josef Kajetán Tyl (1808-56). Escritor e compositor do hino nacional checo Onde é a minha casa?
Incêndio no início da tarde de hoje que destruiu uma empresa de ar-condicionados na zona norte de Porto Alegre. Mais fotos aqui.
Depois de muitos meses resolvi colocar uma parte do ensaio das camisetas insanus no ar. Mesmo ficando tanto tempo na capa, pouco tinha me organizado pra fazer uma galeria dessas fotos. Chamem isso de tédio pré final de semana.
Marsílea Gomabata veste Cove, Sabrina Fonseca ajudou na produção, e as fotos são minhas, aqui, nesse link.
Andava atrás de alguns filmes do Guy Debord e acabei encontrando o site da UbuWeb, que oferece um ótimo acervo do cinema de vanguarda.
Entre filmes do Burroughs, Man Ray, e muita coisa do Fluxus, fiquei feliz de encontrar por lá o 4'33'' do John Cage. A peça, regravada em 2004 pela orquestra da BBC, é composta de três movimentos em que os músicos não tocam uma nota sequer. Nessa obra de 1953, Cage trabalha com a impossibilidade do silêncio, e levantou muita poeira no debate do que pode ser classificado como música.
E sim, também encontrei o que eu procurava do Debord. Critique de la Séparation, La Societé du Spetacle e ainda um documentário de 1989 produzido pelo Instituto de Arte Contemporânea de Boston sobre a Internacional Situacionista.
O acervo vale também pela velocidade grotesca em alguns arquivos maiores. Acabei de baixar Un Chien Andalou, do Buñuel, a 400 kb/s. Não vejo a hora de toda a rede ser assim.
Dona Preta ligou hoje cedo contando histórias da viagem que estão fazendo pela Europa. Eis que em Milão foi barrada ao tentar entrar em uma igreja. Não estava vestida o suficiente para aquele ambiente santo, disseram, informando que usar blusa de alcinha em um calor de 30º não pode.
Sem pensar duas vezes, vestiu a camiseta do insanus que levava de presente pra Vanessa e entrou porta adentro. Rosa choque, insanus mais uma vez salvando o dia. Receberei fotos em breve.
Quer uma camiseta dessas? Peça pelo e-mail EuTambemQueroUma@insanus.org ou use a caixa de comentários abaixo.
"Arrombaram meu carro na noite de sábado." Comentário que já virou tão corriqueiro que nem tem graça começar um post assim.
Pois saindo do Ocidente depois de uma noite de rock 90 e alguns outros sons completamente dispensáveis, me deparei com a porta do carro dobrada e meia dúzia de papéis e cds espalhados pelo chão. Não levaram nada - minha teoria é que fugiram do alarme ou algum transeunte -, mas mesmo assim deixaram um belo estrago que já vai custar uns pila pra consertar.
Irônico isso ter acontecido justo na noite em que fiz questão de estacionar longe do flanelinha da João Teles. Tudo porque na saída da Blow Up anterior, há algumas semanas atrás, o tal guardador de carros mostrou-se uma pessoa deplorável quando me viu partindo sozinho pela rua e chamou três comparsas que aguardavam na outra esquina: "Olha ali o magrão, no carro". Assim mesmo, gritando sem o menor constrangimento.
Humpf. Será que finalmente chegou a hora de ceder às pressões e começar a usar estacionamentos pela cidade?
No início da semana passada fui dirigindo até Melo levar meu avô a negócios. Com o intuito de comprar o Uruguai, saímos cedo pra conseguir voltar no mesmo dia e colocar a capa nova do insanus no ar (viram que bonita?). A cidade, que fica logo depois da fronteira em Aceguá, é capital de estado mas tão pequena que no inverno o banco só abre depois do almoço. Sem problemas, tenho que respeitar um país onde a população come um pedaço de carne, e apenas um pedaço de carne, ao meio-dia.
No caminho de volta, depois de encarar a Maior Tempestade De Todos Os Tempos com direito a chuva de raios, céu roxo e um dilúvio de água que transformava os carros na contramão em grandes clarões de luz - chuva que provavelmente caiu em razão da nossa tentativa de fincar bandeira em solo estrangeiro, também conhecido como bad karma -, me vi no meio de um comboio e fiquei intrigado pela dinâmica que move um grupo de automóveis na estrada.
Estávamos sete ou oito carros andando a uma velocidade fixa, ultrapassando em conjunto e criando uma unidade que impunha respeito a qualquer veículo mais lento. Pode ser uma coisa masculina, mas a formação daquele grupo exercia uma grande atração, fomentando ao mesmo tempo sentimentos de segurança e valentia ao motorista que integrava o comboio.
É interessante como um grupo de pessoas que não se conhecem, representados ali apenas por carros cujas cores pouco se diferenciam na noite, passam a obedecer uma série de regras não declaradas que parecem inerentes a esse tipo de formação: a velocidade é mantida estável, nunca muito acima do limite estabelecido, e, desde que seguida a regra número um, em hipótese alguma um carro irá ultrapassar outro daquele mesmo comboio.
Qual o fato propulsor que conduz uma série de elementos isolados à unidade? A partir de que momento os motoristas se reconhecem como parte integrante de algo maior e passam a agir de acordo com essas regras?
Assim como a formação parece simples e ligeira, a sua dissolução é mais rápida ainda. Alguns quilômetros à frente, diante de um caminhão andando um pouco mais rápido ou um tráfego intenso na contramão, o primeiro e o segundo carro conseguem ultrapassar, mas já na vez do terceiro o motorista fica preso e passa a desestabilizar o comboio. O que antes era um grupo forte e estável quebra-se em pequenos grupos de dois ou três integrantes, momento a partir do qual a postura de cada motorista muda radicalmente.
O propósito inicial de cada um parece ser restabelecer a unidade do comboio, mas pra isso acabam quebrando as regras que justamente mantinham ele estável. O limite de velocidade já não é respeitado e os motoristas, antes cordiais uns com os outros, passam a se ultrapassar mutuamente em uma tentativa frustrada de criar algum vínculo com aqueles que passaram à frente mas não com os poucos que restaram. Afinal um comboio de apenas três carros não é expressivo e nem viril o suficiente.
Logo já não consigo ver os carros que há poucos minutos estavam à minha volta. Espalhados pela rodovia, volto à companhia solitária dos Peugeots vazios que viajam em cima de uma cegonha de 30 metros que insiste em atravancar a minha frente. Passo o resto do caminho imaginando o que deu errado e formulando uma teoria maluca, meio comunista, pra tentar angariar membros pro meu novo e renovado Comboio.
Mais fotos do Uruguai aqui.
Durante minha última estada em São Paulo comprei uma lata de caramelos Sakuma em um pequeno mercado na Liberdade. A bala é produzida desde o final do século XIX no Japão, mas o que me atraiu mesmo foi a embalagem. Vermelha e preta, com o desenho de frutas de um lado e um menino olhando pra dentro da lata do outro. Achei que seria uma boa decoração pra minha mesa, acompanhando o kidrobot que recém havia chegado de presente.
Hoje descobri que a lata é uma edição comemorativa de Hotaru no haka (Cova dos Vaga-lumes), animação japonesa de 1988. O filme é considerado uma obra-prima do gênero, contando a história de duas crianças que tentam sobreviver os horrores da II Guerra em Kobe.
Órfãos após um ataque americano e abandonados pelos familiares que estão mais preocupados em salvar sua própria pele, os irmãos passam a viver em uma caverna e lutam pra conseguir comida. Tudo o que conseguem é uma lata de caramelos Sakuma, que passa a ser guardada com rigor. Ao final, a mesma lata é usada pra guardar as cinzas da irmã falecida. Um destino do qual o irmão tão pouco escapa.
Resolvi baixar pelo BitTorrent. Assim que chegar comento, mas já posso adiantar que fiquei em dúvida se como a última bala ou não...