Uma boa opção rolando nas salas portoalegrenses é o último filme do Woody Allen, Anything Else (Igual a Tudo Na Vida), lançado em 2003 mas que só recentemente chegou aqui. Anunciado como uma comédia romântica, com direito a corações no poster a-la filminho adolescente americano, o filme vai além e consegue fazer uma interessante análise da VIDA.
Além do próprio diretor (obviamente), Anything Else traz no elenco Jason Biggs (o garoto de American Pie) numa atuação em momentos duvidosa, Danny De Vitto (historicamente interpretando um charlatão) e Christina Ricci, que no auge de seus vinte e quatro anos ainda se parece com a Wednesday Adams de treze anos atrás. A procura por atores jovens tem sido freqüente nos filmes do Woody Allen, tendo escalado Scarlett Johansson para seu próximo projeto, ainda sem título, que está sendo filmado em Londres. Uma renovação de elenco, e, ao que parece, também de visões.
Longe de idéias mirabolantes que sempre surgem entre cinéfilos que insistem em encontrar um algo além da imagem, "afinal é um grande diretor, não pode ser APENAS isso" (quem sabe no fórum do IMDb?), o filme costura de maneira bela a temática do medo com a comédia paranóico-schizo-atormentada que só Woody Allen consegue fazer. Um medo da violência, cada vez mais imbricada no cotidiano norte-americano, mas além, os medos da própria vida (pois sim, temática recorrente em toda a filmografia do diretor).
No papel do veterano comediante Dobel, Woody aparece como mentor do novato Jerry Falk (Biggs), ajudando-o a encarar os (já) inúmeros problemas de sua vida e quem sabe até mesmo lhe presentear com outros, novos, mais divertidos. Dobel, um ateu atormentado com possíveis ataques anti-semitas, incita em Falk seus próprios medos, e resume em si um status quo post-911, tanto de setembro quanto da emergência. "Você precisa se defender, precisa ter uma arma em casa" sustenta a figura franzina de Woody Allen com um rifle na mão, pois Eles não o farão por ti.
Mas ao invés de se enfurnar em meio a intelectuais bebendo Bourbon e comendo Macadamias, jogando suas loucuras ao cosmos, o diretor delega ao taxista a tarefa de arrematar o filme. Pois todos os medos, ficcionais ou não, as inseguranças e paranóias que desencorajam e nos fazem gastar notas em análises e pílulas, são iguais a qualquer outra coisa na vida. Simples, e ponto; cômodo, porém digno de um bon vivant em Manhattan. Assim, Anything Else faz o que Michael Moore claramente não conseguiu em seu Fahrenheit 911, e com certeza nos traz uma experiência mais agradável de CINEMA.