As mãos do segurança tremiam ao pegar nossos cartões de embarque hoje à tarde no aeroporto de Congonhas. A faixa de luz vermelha emitida pelo leitor de código de barras saltando pra lá e pra cá em frustradas tentativas de nos deixar passar. Ali, fixo na testa daquele jovem funcionário que recebia com alívio a resposta em bip-bips garantindo que sim, realmente éramos apenas mais dois passageiros, ficava claro a situação tensa pela qual está passando a cidade de São Paulo.
Na fila ao lado o senador Cristóvão Buarque abria os braços uma, duas, três vezes ao entrar pelo detector de metais, que apitava como se naquele instante a intensidade fora elevada ao nível máximo. O saguão do aeroporto recém havia sido evacuado, alvo de um suposto atentado à bomba.
Vão fechar o metrô mais cedo por causa de uma ameaça por lá também; a polícia declarou toque de recolher, 20h; você viu que metralharam uma viatura no Higienópolis agora de tarde? Os rumores circulavam rapidamente, e a impressão que tive era de que os acontecimentos do final de semana finalmente estavam dando um tapa na cara de todo mundo
O que no domingo era visto como uma chacina de policiais e na manhã de hoje havia se tornado um feriado forçado, passaria a ser calamidade apenas quando o engarrafamento atingisse a marca dos 200 km. O vôo de volta pra Porto Alegre foi a fuga de uma cidade em chamas, as lanternas amarelas e vermelhas dos carros já enfileiradas pela Marginal Tietê.