não me perguntem como isso veio a acontecer
O início de noite já se mostrava bizarro ao subir naquele T1 lotado. Direção bairro. Viagem curta descemos no Bourbon, deixando pra trás uma estranha trupe de figuras suadas entre os passageiros.
Atravesso a Ipiranga e as luzes natalinas me ofuscam. Vejo um aglomerado em torno de um Papai Noel nem tão barbudo assim. Velhinho, gordinho, de óculos, mas não barbudo. Não paro. Eu quero é chegar lá em cima.
"Eles são da produtora, deixe-os passar", ordenava uma senhora enquanto eu conseguia me infiltrar por entre hordas de seguranças que se aglomeravam na entrada das salas. Horda também de meninas muito novas para usar saias curtas, com máquinas fotográficas numa mão e uma mãe na outro.
Por um instante até penso se realmente quero estar aqui nessa ocasião. Esses gritos histéricos, essa pré-escolagem, e ainda o cheiro insuportável de pipoca sabor peido que invade todas as salas do Cinemark. Mas ei, é de graça, e a guria até que é bonitinha.
Entrando na coletiva, sem papel, caneta, nem gravador, sento um pouco atrás e observo. Perguntas idiotas de jornais medíocres, "qual foi a cena mais divertida de fazer". Me seguro pra não sair chineleando a sua suposta nudez e fico ali, contemplando a idéia de alguém abruptamente entrar gritando "Sandy eu quero te pegar". Pois sim, vendo assim a um palmo de distância até que é um rostinho bonito.
Eis que tentei chegar mais perto, passar meu telefone, dizer "me ligue, baby" na melhor canastragem possível, mas dois metros de segurança na minha frente impediam qualquer tentativa. E assim ela foi; logo embarcou no seu jatinho e flu.
"Essa é a Flávia, diretora...", cumprimentava enquanto os olhos fugiam ao longe.