Uma boa pedida nos cinemas é O Tempero Da Vida (Πολίτικη Κουζίνα - Politiki Kouzina), de 2003. A produção turco-grega conta a história de uma família que mora em Istambul e é deportada para a Grécia nos anos 60 com o acirramento da crise entre os dois países (que culmina na invasão do Chipre pela Turquia em 74).
Passando rapidamente pela questão política, a história é concentrada na relação da família com a cozinha e os seus temperos. O nome do filme em grego, Politiki Kouzina, pode significar tanto "cozinha política" quanto a "cozinha da cidade", o que deve ter motivado a mudança de nome nas traduções para o Português e para o Inglês.
O garoto Fanis, protagonista, guarda recordações do avô que fazia dos temperos um meio para ensinar astronomia e geografia. Afinal, astrônomo e gastrônomo eram muito semelhantes, dizia o velho que ficara em Istambul. Logo no começo, as sutilezas de uma almôndega feita com canela ao invés de cominho dão uma bela tônica à produção - uma verdadeira viagem por sabores da culinária turca que salta à tela e é ela própria um personagem na história.
Pra não sair sem apontar defeitos, O Tempero Da Vida peca pela falta de simplicidade. Cebolas voadoras, uma abertura que evoca o Cosmos, de Carl Sagan, e cenários toscamente computadorizados são elementos que atribuirei de forma aleatória ao "Moderno Cinema Grego" e que são dispensáveis. Em certos momentos até desejamos um quê de Kiarostami.
Senti falta também de uma trilha sonora mais marcante. A música turca é belíssima (devo imaginar que a grega também), e foi muito bem aproveitada em filmes como o Contra a Parede (Gegen Die Wand) com músicas de Selim Sesler e Sezen Aksu.
De toda forma vale a ida ao cinema. Mas é bom lembrar de jantar antes. O efeito da comida na tela é devastador e encontrar um restaurante para saciar o desejo da culinária dos Bálcãs será praticamente impossível às altas horas de Porto Alegre.