categoria:: FSM 2005
Hugo Chávez y banda

Poucos dias antes do início do Fórum já havia grandes cartazes colados pelos muros portoalegrenses. Ao lado de shows de Los Vatos, Replicantes e alguns outros festivais de bandas gaúchas, letras laranjas garrafais traziam o nome Hugo Chávez, levemente inclinado rumo ao cosmos, como se estivessem chamando uma grande lenda do rock.

Nesse final de semana acompanhei a chegada do presidente venezuelano ao assentamento sem-terra Lagoa do Junco, em Tapes, e sem demora percebi que ele é justamente isso. O mais intrépido popstar latinoamericano veste cores militares, ostenta medalhas e condecorações e trata o seu estimável público como se fosse o próprio Sílvio Santos. Ao invés de prometer um milhão de reais (não se esqueçam de ler as quatro palavras anteriores como se fossem o próprio), oferece terras para a reforma agrária, conhecimento para todos, e talvez um pouco de alívio para as esperanças da esquerda.

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Não sei se necessariamente uma luz no fim do túnel, mas por aqui as mulheres e crianças também gritam o seu nome, querem tocá-lo, quiçá abraçar o homem que diz trazer em si o espírito da revolução de Símon Bolívar.

Já na chegada ao assentamento a recepção era calorosa. Chapéu de palha e bandeireinhas da Venezuela para todos, além de cartazes e um livro del comandante. A área, desapropriada do Banco do Estado em 1995, hoje abriga trinta e cinco famílias em oitocentos hectares à beira da Lagoa dos Patos.

Peixe e arroz foi a combinação encontrada pelos pequenos agricultores. A carpa retira as impurezas da água e elimina a necessidade do uso de agrotóxicos no plantio do arroz. Junte a isso a criação de patos, produtos caseiros e outras culturas de grãos e temos ali um belo modelo de agricultura sustentável pronto para ser exportado para outras regiões. Mas o impressionante mesmo era ver tudo isso disposto em oferenda diante do palco que fora montado para a chegada do presidente.

Parecia que os cerca de mil integrantes e simpatizantes do Movimento Sem Terra que ali estavam presentes aguardavam nada mais que a bênção daquele rosto carismático. "Não estou aqui como presidente, mas sim como campesino", dizia Chávez no discurso em que defendeu a união dos povos latino-americanos e o conhecimento como o principal poder contra-hegemonico.

Eu queria ficar alguns dias por aqui. Me sinto fortalecido com essa brisa, com essa terra (...)

Constantemente conversando com o público e fazendo piadas com as autoridades presentes, não restaram dúvidas entre aqueles que encaravam o sol de 40 graus que aquela era a revolução necessária. Horas depois no Gigantinho, entre os milhares que entraram e os milhares que tiveram que assistir do lado de fora, a situação não foi muito diferente.

É inegável que o presidente venezuelano seja o verdadeiro populista de carteirinha, mas parece que realmente conseguiu roubar a cena durante essa quinta edição do Fórum Social Mundial. Se dois anos atrás Lula era quem representava a solução de todos os males, é em Hugo Chávez que hoje a América Latina deposita suas expectativas.