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Lula durante o FSM

Caminhava agora pela manhã em direção ao Gigantinho e ouvia ao longe os gritos e palavras de ordem contra o governo Lula. Entre uns e outros mandando o presidente a todos os lugares possíveis, de preferência para bem longe do Fórum, alguém gritava: "Vocês estão cansados? Então vamos andar mais rápido pessoal", obviamente tentando contornar o prejuízo da noite virada em claro.

Alguns até conspiram que o show do Manu Chao foi deliberadamente atrasado até as três da manhã de hoje para que isso acontecesse. Afinal com toda a diversidade de idéias e tendências presentes em Porto Alegre nesse final de Janeiro, não é de se espantar que tal imaginário possa brotar em meio a uma barraca e outra.

Eram nove da manhã, e a fila em torno do ginásio já beirava as dezenas de milhares. A maioria simpatizantes vestindo camisetas de 100% Lula, além de inúmeros estrangeiros ainda deslumbrados com nossa incrível democracia (sic).

Em meio à Chamada Global para a Ação Contra a Pobreza, campanha lançada por uma coalizão mundial de ONGs, Lula falou sobre o crescimento do processo democrático na América Latina. Em seu discurso, disse que agora o momento é de nos voltarmos para a África, re-estabelecer uma relação com os países daquele continente e garantir um auxílio brasileiro à região. "Ou nós nos juntamos, ou nós não teremos saída", disse em oposição aos Estados Unidos e às grandes potências européias.

Lula também aproveitou para exaltar o crescimento econômico do país nos últimos dois anos. Este crescimento é associado pelos seus opositores à políticas neoliberais e aproximações com a especulação financeira que pouco diferem de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso. Porém a restrição no número de pessoas e o forte esquema de segurança montado no Gigantinho fez com que essas vozes contrárias ao presidente não passassem de trinta. Duas a mais ou a menos.

À esses poucos, Lula ostentou com arrogância: "Esses que são contra, que não querem ouvir, são os filhos do PT. Um dias eles amadurecerão, e à casa voltarão."

No final da conferência, do lado de fora e cercados por policiais da brigada, partidários do PSTU e do P-SOL discursavam em cima de um carro de som. Longe das câmeras. Nenhum veículo gosta de mostrar muitas pessoas de vermelho reunidas.

Se a mídia tratava esta manhã como decisiva para mensurar o apoio da esquerda mundial ao governo brasileiro, aos seus olhos nosso torneiro mecânico se deu bem. Lula embarca hoje as 15:30 para Davos, onde vai participar do Fórum Econômico Mundial e possivelmente aproveitar os Alpes suíços para tirar algumas fotos andando de ski.

Hora de almoçar.