Este mês resolvi abdicar das modernidades e ir atrás da tradição no corte da mufa. Após uma rápida passada pela Rua da Ladeira, Salão Fígaro, em letras capituladas, me pareceu a melhor opção. "Ih, essa aí ta no interior. Nem imagina o que eu fiz aqui no final de semana," falava um senhor com o rosto coberto de sabão quando entrei na barbearia, o cheiro de talco e loção pós-barba preenchendo o pequeno ambiente.
Seu Eugênio indicou a cadeira tão logo dei dois passos. Com uma chave de fenda amarela ajustava a lâmina de um barbeador elétrico. "Se ela não estiver no centro da peça não corta nada", disse com 60 anos na profissão. Doze o cabelo, mais sete pela barba - bem melhor do que eu andava pagando aqui nos arredores de casa.
Despistando entre um comentário sobre o jogo e outro, tentei descobrir mais coisas sobre o lugar. "O Quinze perdeu por falta de experiência", dizia o senhor com a lâmina ao pescoço, eu cauteloso por não saber a que time demonstrar afeição. Trabalhava no Fígaro há 40 anos, o salão tem 65. Das barbas que passaram por ali, pensava em épocas em que eu estaria cortando assim para conquistar as garotas da Rua da Praia:
Fiquei contente por ter descoberto o novo antro, mesmo depois do alegre comentário do Bruno que disse que haviam cortado meu cabelo com um GARFO. Ah, não existem mais garotas na Rua da Praia.