Fiquei muito assustado quando todos se levantaram e começaram a cantar o hino nacional diante da imagem de uma bandeira flamulando na tela. Pouco depois estavam aplaudindo uma das mulheres mais ricas do estado, que subia ao palco para parabenizar aqueles que estavam ali. Enquanto batiam mais palmas, olhei pro lado e disse "acho que nos metemos numa bomba." Poderiam ter tocado a versão redux, aquela usada em jogos de futebol.
Participar do evento promovido pela Parceiros Voluntários hoje pela manhã no Salão de Atos da UFRGS foi um verdadeiro exercício de paciência. Por instantes achei que chegaria ao nirvana, mas no final tudo que me deram foi um sanduíche de queijo com tomate e a instrução de imprimir o certificado quando chegasse em casa. Pelo menos começar a semana podendo dizer que participei de um congresso de direita pode garantir algumas boas piadas.
A idéia era assistir Humberto Maturana, biólogo chileno que cunhou a autopoiesis junto com Francisco Varela, imaginando uma palestra nas linhas do que eu havia lido anos atrás. Confesso que não me surpreendi tanto quando cheguei no evento e vi que o título da apresentação seria "O amar como fundamento do humano." Há algum tempo eu suspeitava que a parte de ciência ficava mesmo por conta do Varela, mas bem, antes de me precipitar em conclusões era preciso encarar outros dois conferencistas.
O movimento naquele salão bem que parecia um último suspiro do neoliberalismo. Com sua organização a la Fórum Econômico Mundial, um grande tapete persa no meio do palco e quatro poltronas de couro arranjadas em par, o discurso ali era em favor do humanismo. Afinal "o ser humano é muito bonito, e apenas felizes é que nossos trabalhadores serão mais produtivos". Fico pensando se as pessoas da platéia já tiveram algum contato com Huxley... sem chances.
Esse boom de um discurso em favor da vida é ultimamente uma maneira de preservar as estruturas econômicas existentes. Essa posição ficou clara na apresentação de Ronald Fry, pesquisador norte-americano de psicologia organizacional. Fry sustenta a idéia de que devemos ver o que temos de bom no mundo, tudo que é tão lindo, e construir o futuro a partir disso. "De nada adianta ficarmos com essas picuinhas de mudar o modelo, de começar tudo de novo, bobagem" (talvez não exatamente nessas palavras). Um conservadorismo travestido de ajuda ao próximo.
Abstendo-se das noções econômicas, Maturana manteve a mesma linha das apresentações anteriores. "É tudo muito bonito, e tudo é interligado, vejam, vamos ser felizes" (mais uma vez, não exatamente nessas palavras). Limitando-se a leitura de um powerpoint de seis anos atrás, o seu discurso é vazio e panfletário - da maneira em que pesquisadores como Capra e Barabási são panfletários. A diferença é que esses outros fazem melhor, ficando difícil esconder a decepção.
Saí do Salão de Atos disposto a assistir o último filme do X-Men, igualmente irrelevante e mal feito. Mais sobre isso em algum post a seguir.