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o último vôo da borboleta

Sentado na frente do computador há horas, radiação nos olhos e um cansaço desgraçado, já não via graça nenhuma naquele momento. Os blogs alheios já tinham sido todos vasculhados. A pornografia gratuita já não interessava. A menina tentava puxar conversa, mas o ambiente calmo, silencioso, verde-água em que estava, não permitia qualquer aleatoriedade. Ele precisava dessa desordem. Mas tudo era muito normal! O vento não entrava pela fresta, a água não tinha gosto de madrugada portoalegrense e nem se ouviam os gemidos da vizinha do lado. O clima de melancolia total o fazia pensar em borboletas, contemplando uma vida de sonhos e realidades fluidas. Afinal, tudo o que precisava era uma trupe de alienígenas invadindo pelo teto. Verdes, baixinhos, e com antenas, na melhor visão estereotipada dos extra-terrenhos. Abririam um buraco, pulariam, e ficariam atônitos ao tentarem se comunicar com uma samambaia que acreditavam ser o líder. Mas nem isso. Ao fundo tocava Smashing Pumpkins. Pegou suas tralhas e foi dormir para ver se as coisas melhoravam. Acordou sentindo um frio desgraçado, uma brisa que entrava por baixo de suas vestes, estranhamente folgadas naquela manhã; acordou e se viu em cima de uma montanha, encostado na única rocha do cume, ainda manchada de sangue.

por gabriel pillar | 17/11/2003 23:33 | Comentários (0)