Acende um cigarro; não fuma, nunca fumou, mas acende pela graça de.
Maldito sol que já paira alto. A manhã mal começou e o dia claro reflete os cacos no chão, resquícios de globo de uma boate que já não ligará seu chão piscante e multicolorido. Dançara muito.
Na rua cruzam figuras estranhas à sua distância. A senhora parada pro ônibus de sacola na mão que lê Sidney Sheldon; o papeleiro que abre seu depósito ainda de olho na moça que passa; correndo de pasta na mão e mochila batendo na bunda ainda menina, perde seu ônibus, senta na calçada e canta. Por aquelas ruas era apenas mais um transeunte.
Pois recém saíra do apartamento desconhecido. Há tempos não tinha a maravilhosa sensação de acordar e não saber onde, muito menos saber que fotos eram aquelas que decoravam paredes verdes que não suas. Saiu sorrateramente, curtindo a cumplicidade de não saber. Muito menos de como tinha a chave. Tinha.
E pensar que nada teria acontecido se tivesse simplesmente entrado no taxi, mantendo-se aquém a só mais uma coisa. Mas não. Saiu correndo, quis ver a noite, tomar vinho tinto em doses absurdas e deitar nu em quartos alheios, ainda que sozinho e com frio.
Apenas saiu.